O amor pela tradição faz com que Carlos Henrique Dahmer, 39 anos, tenha uma dedicação especial quando o assunto é a centelha da Chama Crioula. Desde 2019, ele não mede esforços para retirar o fogo na cidade da Região Tradicionalista (RT) onde é gerado. Filiado à 24ª RT, pelo piquete Arno Markus, de Paverama, não esconde o orgulho de ser o único teutoniense a ter feito parte do grupo que buscou a Chama em Alegrete, em 17 de agosto.
“Seguimos a Rosário do Sul, passamos por São Gabriel, Vila Nova do Sul, São Sepé, Cachoeira do Sul, Candelária, Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires, Cruzeiro do Sul, Estrela e chegamos no dia 2 de setembro em Teutônia. Foram 578 km em 16 dias, com revezamento de duas éguas. Paramos um dia apenas em São Sepé, para dar um descanso aos animais”.
Hospitalidade
Carlos Henrique destaca que em todos os locais onde o grupo pernoitou foi bem recebido, inclusive com janta e com o presente de alguns quilos de carne para assar durante a cavalgada. O almoço, na sua maioria das vezes, foi feito na beira da estrada.
A cavalgada traz muitos desafios aos participantes. O cansaço, as dores no corpo pela posição da montaria, a chuva, o frio, com dias de temperatura em torno de 1ºC. Foram cerca de 180 km costeando a BR-290, enfrentado a força e o rigor do Minuano. “Porém, nosso maior desafio foi a presença do ´mio-mio`, que é uma planta tóxica que ao ser ingerida pelos animais leva à morte, como aconteceu com os cavalos do grupo de Santa Vitória do Palmar”, conta.
Para ele, conduzir este símbolo do Rio Grande do Sul, em montaria, é uma grande responsabilidade. “Mas, da mesma forma, é muito especial. As pessoas te dão forças, te incentivam a toda hora, te acolhem nos locais de parada como se fossem da família. E poder trazer para nosso município, já há alguns anos, essa centelha oficial é muito gratificante, por tudo o que passamos na estrada ao longo desse tempo fora de casa”.
Estímulo
Henrique tem o hábito de, a cada ano, tirar férias no trabalho para realizar a atividade. Como nunca teve apoio do Poder Público para representar o município na empreitada, o incentivo da família é o combustível necessário. Nesta edição, quando chegou a Venâncio Aires, foi recepcionado pelo filho Otávio, de 10 anos, e outras cinco pessoas. “Sempre incentivei e procurei dar espaço para as crianças, que são nosso futuro, a fazer o mesmo que fizemos. Se não, vai chegar uma hora que essa ´chama` vai se apagar”, assinala.
A chama está mantida sob responsabilidade do piquete Galpão do Henrique – formado por 12 pessoas, além das esposas e dos filhos –, que fica no Bairro Boa Vista, e no sábado, 14 de setembro, será levada para o Acampamento Farroupilha de Teutônia. Henrique agradece às empresas Reinigend Química, Isalitec, Gole da Alegria – revendedor Prost Bier –, Cabanha Três Trotes, ao tradicionalista Maciel Wiebusch, que doou ração para a cavalgada, e ao médico veterinário Eduardo Ferreira Filho, que cuidou dos animais e auxiliou em medicamentos para a cavalgada, além de outras pessoas físicas que doaram de forma anônima, auxiliando no custeio.
Saiba mais
A geração e distribuição da centelha da Chama Crioula é uma iniciativa do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Na 79ª Convenção Tradicionalista, realizada em 2014, em Caxias do Sul, foram definidas as cidades encarregadas, conforme as RTs em que o Rio Grande do Sul é dividido. Em 2023, a geração ocorreu em Camaquã, na 16ª RT. Em 2025, será em Caxias do Sul, na 25ª RT. A 24ª RT foi contemplada com o acendimento em 2012, em Venâncio Aires, e voltará a gerar o fogo simbólico em 2044, em Lajeado.