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Setor calçadista teme impactos do tarifaço

Sobretaxa na exportação de produtos brasileiros aos EUA entrou em vigor nessa quarta-feira. Ramo dos calçados, com forte presença na microrregião, está entre os mais prejudicados e teme desligamentos

08/08/2025 | 08:20
| Foto: divulgação
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A taxação de 50% em produtos brasileiros que chegam aos Estados Unidos entrou em vigor nessa quarta-feira, 6. A medida, assinada na semana passada pelo presidente norte-americano Donald Trump, afeta cerca de 35% das mercadorias, considerando a lista de exceções, com cerca de 700 itens. Entre os setores mais afetados, com forte presença na microrregião, está a indústria calçadista. 

Em 2024, o calçado ocupou a décima posição entre os mais exportados pelo Rio Grande do Sul, com US$ 568,2 milhões em vendas externas. O produto é o sexto item mais exportado pelo estado aos EUA – destino de 47,5% das vendas internacionais de calçados de couro. Segundo a Abicalçados, o RS é o maior exportador do produto em valor agregado do Brasil e responsável por mais de 80 mil postos de trabalho diretos e cerca de 100 mil indiretos.

Somente em Teutônia, são cerca de 3,2 mil pessoas empregadas. As duas principais empresas do ramo – Beira Rio e Piccadilly – somam 27,85% do retorno de ICMS ao município na projeção de arrecadação para 2025, calculadas com base no Valor Adicionado Fiscal (VAF) de 2023. 

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Calçados de Teutônia (Siticalte), Roberto Müller, afirma que o clima no setor é de apreensão. “É muito ruim este momento. Ainda mais agora, na metade do ano, que é tipicamente um momento de retomada do setor. O impacto será gigante”, analisa. 

Müller alerta para o risco de encolhimento nas empresas, que viviam um momento promissor de retomada das exportações. Segundo ele, se torna inviável agora, de uma hora para outra, redirecionar toda a produção voltada aos EUA para o mercado interno.

Empregos em risco

Além de empregar muitas famílias da região, o setor calçadista é, segundo ele, culturalmente enraizado na microrregião. Ainda que haja outros segmentos capazes de reabsorver os trabalhadores em caso de demissões, seria um fato a lamentar, pois o setor oferece atualmente boas condições aos profissionais.

Para o sindicalista, o problema tem origem em uma disputa política internacional, mas o governo brasileiro precisa agir. Ele defende a negociação com os Estados Unidos e a adoção de medidas internas para mitigar os efeitos da sobretaxa, como a reedição de programas de proteção ao emprego implementados na pandemia.

“Cenário grave”

Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, o cenário é grave e atingirá, em cheio, milhares de empregos no país. “Temos empresas cuja produção é integralmente enviada ao mercado externo, a maior parte para os EUA. Essas empresas terão produtos muito mais caros do que os importados da China, por exemplo, que pagam uma sobretaxa de 30%”, analisa. Em nível nacional, a Abicalçados estima uma perda de cerca de 8 mil empregos diretos. 

Ferreira destaca, ainda, o papel do poder público para mitigar as consequências. Entre as medidas solicitadas, estão linhas para cobrir o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) em dólar com juros do mercado externo, a ampliação do Reintegra para exportadores, a liberação imediata de créditos acumulados do ICMS (Estados) e a reedição do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm), praticado durante a pandemia.

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