14 de agosto de 2025
12ºC | Tempo nublado

ILUSTRE CIDADÃ

“Eu era tudo: professora, diretora, merendeira, faxineira e ainda cuidava da horta”

O quadro Ilustre Cidadã entrevista Alda Reckziegel

Por: Marco Mallmann

14/08/2025 | 11:14
Alda Reckziegel | Foto: Sara Ávila
Alda Reckziegel | Foto: Sara Ávila

Prestes a completar 95 anos, nascida em 1º de novembro de 1930, a professora aposentada Alda Reckziegel tem uma história de 27 anos dedicados ao ensino. Antes mesmo de se tornar professora municipal, foi educadora voluntária. Ao longo de sua trajetória alfabetizou cerca de 1 mil alunos, inclusive as três filhas e os dois filhos, que já lhe concederam uma prole de oito netos e quatro bisnetos. Há cerca de dois anos, deixou de participar das atividades do grupo de idosos Alegria de Viver. Hoje, suas atividades se resumem a curtir a casa, as flores e a manter os contatos com a família e amigos pelo WhatApp e pelas redes sociais.

Como foi o início como professora?

Alda Reckziegel Iniciei com a alfabetização de cerca de 50 crianças, aos 23 anos, numa casa de madeira construída nos fundos da casa do meu pai, em 1953, no Canto dos Vicentes. Eram crianças que não tinham condições financeiras de frequentar a escola. Meus pais produziam farinha de mandioca, então muitas famílias trabalhavam na atafona e eles tinham muitas crianças. Depois, para me tornar professora municipal, fiz exame de admissão na Secretaria de Educação em Taquari.

E quando a senhora iniciou a lecionar na Santa Manoela?

Alda Quando me casei, em 26 de maio de 1956, com meu falecido marido José Arlindo Reckzegel, vim morar aqui na minha sogra, em Santa Manoela. Construímos uma casa e meu pai construiu uma nova escola aqui do lado da casa. Tinha cerca de 40 alunos e eu acabava tirando os estudantes das escolas tradicionais do então município de Taquari, que cobravam. Muitos da cidade acabaram vindo aqui, estudar comigo, já que meu trabalho era gratuito. 

Como era o trabalho naquele tempo?

Alda Muitas crianças só falavam o idioma alemão em casa. Então, primeiro tinha que ensinar eles a falar o português e depois passava para a alfabetização. Eram alunos de Morro Azul, de Santa Manoela, de Linha Brasil e de Paverama, todas, na época, localidades pertencentes a Taquari.

Quando a senhora passou a lecionar pelo município?

Alda Em 1970, foi criada a Escola de Santa Manoela, que era multisseriada. Ao lado do Ivo Roloff – que era vereador por Taquari na época (de 1969 a 1972) e depois foi eleito o primeiro prefeito de Paverama, em 1988 –, do Valdi Reckziegel, meus pais e outros moradores locais sempre batalharam para ter uma escola. Lecionei até 1980, quando me aposentei. Por muitos anos, trabalhei com as quatro turmas numa mesma sala. Somente mais tarde é que a quantidade foi reduzida para duas turmas, quando houve a divisão das salas. Eu participava das reuniões mensais na Secretaria de Educação em Taquari, levava os planos de aula para mostrar e prestar contas. Saía daqui a pé até a vila de Paverama para pegar o ônibus. De noite, retornava de Taquari e voltava a pé para casa.

Quantos alunos passaram por suas mãos?

Alda Acredito que, aproximadamente, 1 mil alunos. E isso praticamente sozinha. Eu era tudo: professora, diretora, merendeira, faxineira e ainda cuidava da horta. Apenas quando nasciam os filhos, eu recebia licença e daí vinha a Nair Jantsch me substituir. Os alunos aprenderam a ler e escrever, com respeito e disciplina. Eu era séria mesmo. Até hoje, os alunos que estudaram comigo têm muito respeito. Nenhum que passou por mim ficou sem aprender a ler e escrever, inclusive crianças que já eram um pouco maiores e não tinham aprendido com outros professores. 

Como funcionava o dia-a-dia das aulas?

Alda Quando chegavam, primeiro a gente fazia uma oração, cantava uma canção e daí iniciava as aulas. Eu ensinava as vogais, depois todo o alfabeto, os números naturais, os números romanos e a tabuada. Os alunos tinham que saber tudo na ponta da língua. Também fui catequista e era convidada para as festas de 1ª Comunhão das crianças.

Como foi a homenagem que a senhora recebeu da Câmara de Vereadores?

Alda Isso foi há cerca de dois anos. Fui premiada com o troféu “Mulheres Inspiradoras”, por iniciativa dos vereadores Ana Sirlei Vargas e Gilmar Reckziegel. Me sinto muito feliz por tudo o que passei. Nunca achei nada ruim e não me arrependo de nada. Deus quis que eu estivesse viva até agora e, se ele quiser, pretendo viver mais alguns anos para poder contar mais histórias da minha vida.

Leia também as Edições Impressas.

Assine o Informativo Regional e fique bem informado.