Natural de Taquara, o presidente da Certel, Erineo José Hennemann, alcançou o objetivo de todo jovem profissional: aos 20 anos, recém-formado em eletrotécnica, com diversos livros, mas sem experiência prática, encontrou na cooperativa aquilo que precisava: subestações, medição, linhas de transmissão e de distribuição para pôr o aprendizado em prática. Cidadão Teutoniense, reconhecido pelo Legislativo, aos 72 anos se prepara para uma nova eleição, com o desejo de contribuir por mais quatro anos como presidente, antes de passar o bastão.
Como foi sua vinda para a Certel?
Erineo José Hennemann – Fiz concursos em empresas de energia e me inscrevi na Fecoergs. Através dela, fui entrevistado pelo ex-presidente Egon Édio Hoerlle (in memoriam) e pelo senhor Célio Horst. No dia 2 de fevereiro de 1976, comecei a trabalhar na cooperativa, como estagiário. Aqui, tive a oportunidade de praticar tudo o que aprendi. Depois, passei por diversos setores, como chefe dos plantões, das equipes de construção, do departamento técnico. Fui convidado a ser gerente, depois vice-presidente, até chegar à presidência. Em 2026, completam-se 50 anos dessa trajetória.
Quais as mudanças vivenciadas?
Hennemann – Quando cheguei, a Certel era pequena. Tinha cerca de 4 mil associados, em torno de 400 transformadores e pouco mais de 30 funcionários. Hoje são 80 mil associados, 9,5 mil transformadores e quase 1 mil funcionários. Tive a oportunidade de acompanhar tudo isso. Depois, senti a necessidade de buscar formação na área de Administração de Empresas, curso no qual me formei na Univates. A partir dali, fui para a parte de gestão, principalmente na área de energia, o que foi me dando uma bagagem muito grande. Sempre busquei qualificação e aprendi com pessoas que tinham prática nas diversas áreas. Foram momentos de crescimento, mas também desafiadores. Sempre fui muito bem-acolhido e, gradativamente, chamado para participar das decisões.
Quais foram os fatos mais marcantes?
Hennemann – Os problemas ligados à energia, como a queima de subestação em Lajeado, de transformador em Teutônia. Temporais também foram momentos difíceis, porque interrompiam a transmissão de energia. Tivemos desafios em 2010, quando a Aneel passou a regular a cooperativa e fez a separação das empresas. Conseguimos fazer com que a Certel fosse uma só, promovendo uma integração maior entre todos os setores, melhorando o relacionamento e fortalecendo o interesse dos colaboradores, que hoje nos dão um índice de satisfação, por pesquisa, de mais de 90%. Temos pessoas dedicadas, comprometidas e qualificadas, que são felizes trabalhando aqui.
Quais foram os principais desafios?
Hennemann – Estão ligados à gestão, à melhoria da qualidade de vida dos nossos colaboradores e à manutenção do prestígio e da credibilidade da Certel. Porém, o maior desafio foi a catástrofe da enchente de 2024. A margem direita do Rio Taquari, onde temos aproximadamente 45 mil associados, ficou quase que na íntegra sem luz. Essa tragédia deixou marcas muito profundas em todas as nossas atividades, mas também um exemplo muito forte de intercooperação. Tivemos o apoio das cooperativas do RS e de SC que vieram nos ajudar. Passamos por momentos desumanos. Foram perdas de vidas, o pessoal trabalhando sob condições difíceis, 1,2 mil postes perdidos, uma linha de transmissão inteira entre Estrela e Lajeado, a hidrelétrica de Salto Forqueta foi duramente atingida. Foi um prejuízo na ordem de R$ 80 milhões, mas estávamos capitalizados e não tivemos que parar um único minuto.
Quais os projetos mais importantes?
Hennemann – Temos focado bastante na geração, porque entendemos que a região, o estado e o país só crescerão com infraestrutura energética, de comunicação e de logística de qualidade. Temos uma energia que hoje é cerca de 20% mais barata do que a de outras distribuidoras. Estamos iniciando a quinta hidrelétrica e gerando muitos recursos para a cooperativa. Além disso, temos um projeto de energia eólica para 150 mil pessoas, em Linha Harmonia, assim como a Hidrelétrica de Bom Retiro do Sul, que é um sonho do Vale.
Como o senhor se sente, depois de tantos anos à frente da instituição?
Hennemann – Sinto que recebo um apoio muito grande das pessoas próximas a mim. Isso se deve ao relacionamento que tenho com todos, com simplicidade, com objetivos claros e, especialmente, dando bons exemplos. Fico feliz por ter aprendido com todos os ex-presidentes da Certel. Tenho, sem dúvida, um pouco de cada uma dessas lideranças. Isso me deixa feliz. Minha caminhada vai completar 50 anos em 2026 e pretendo ser presidente por mais quatro anos. Ainda tenho muito a contribuir para a empresa. Ao mesmo tempo, tenho a consciência de que a sucessão é necessária. E isto já está sendo preparado.