23 de outubro de 2025
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LEGADOS CULTURAIS

A “travessia da esperança”

Opinião de Júlio César Lang, escritor, geógrafo e professor

23/10/2025 | 09:53

Quando os primeiros imigrantes germânicos embarcaram rumo ao Brasil, a partir de 1824, deixaram para trás não apenas suas terras, mas também uma Europa “mergulhada” em crises políticas, falta de perspectivas, guerras locais e pobreza. A promessa de um novo começo em terras tropicais parecia sedutora, mas o trajeto marítimo até o Brasil revelou-se um teste de resistência emocional e física.

As viagens, naquela época, ocorriam a bordo de navios à vela, precariamente adaptados para transportar famílias por longos períodos no Atlântico. A duração da jornada podia variar de 2 a 6 meses, dependendo das condições dos ventos, e, em meio ao oceano, as embarcações pareciam uma frágil “casca de noz” navegando pelas “aparentes infinitas águas”.

Os navios, geralmente com pouca ventilação e higiene, eram superlotados, o que favorecia a propagação de doenças como disenteria, escorbuto, tifo e varíola. A alimentação era limitada, baseada em água potável racionada, biscoitos duros, carne salgada, quase nenhum alimento fresco. 

Muitas crianças e idosos, especialmente, não resistiam à jornada: hoje, estima-se que até 10% dos passageiros morriam antes de chegar ao destino.

O medo, durante o percurso, era constante. Tempestades violentas, naufrágios e ataques de piratas aterrorizavam os passageiros. Sem preparo para a vida no mar, muitos sofriam com enjoo e a claustrofobia das cabines abafadas.

Ainda assim, o desejo de reconstruir a vida e a fé mantinham os imigrantes unidos – cantando hinos religiosos, mantendo diários, rezando… como formas de suportar o sofrimento.

Ao chegar ao Brasil, novos desafios surgiam. Muitos desembarcavam no Rio de Janeiro, ou em portos do Espírito Santo, e eram transportados por terra ou pequenos barcos até colônias no Sul, como São Leopoldo (RS), Blumenau (SC) e Joinville (SC).

A travessia por rios e trilhas de mata fechada era igualmente penosa. Algumas famílias chegavam debilitadas, desnutridas, “carregando apenas a esperança nos olhos e a força nos braços”.

A epopeia dos germânicos que colonizaram o Sul do país é marcada por coragem, perdas e sacrifícios profundos.

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