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NOVA RESOLUÇÃO

Regras para obter CNH geram debate sobre segurança e formação de condutores

Representantes do setor criticam medidas que flexibilizam processo de habilitação. Governo alega redução de até 80% no custo para obtenção do documento

Por: Marcel Lovato

06/12/2025 | 08:00
CFCs manifestam
preocupação com
a qualidade da
formação de
novos motoristas. Foto: Doris Gottardi
CFCs manifestam preocupação com a qualidade da formação de novos motoristas. Foto: Doris Gottardi

O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) aprovou, na   segunda-feira, 1º, a resolução  que acaba com a obrigatoriedade de frequentar aulas de  autoescola na preparação  para os exames teórico e  prático dos Departamentos  de Trânsito (Detrans). A norma entrará em vigor assim  que for publicada no Diário  Oficial da União, o que deve  ocorrer nos próximos dias.  Antes da divulgação, a pro posta passou por consulta  pública por cerca de um mês  e teria recebido cerca de 70  mil contribuições. 

Segundo o governo, o  custo para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação  (CNH), que hoje pode chegar  a R$ 5 mil, será reduzido em  até 80%. Facilitar o acesso   ao documento é o principal  objetivo da medida. Dados  da Secretaria Nacional de  Trânsito (Senatran) apontam  que 20 milhões de brasileiros  já dirigem sem habilitação e  mais 30 milhões têm idade  para ter a CNH, mas não o  possuem. 

Novidades 

A abertura do processo  poderá ser feita diretamente  pelo site do Ministério dos  Transportes ou por meio da  Carteira Digital de Trânsito  (CDT). É necessário ter 18  anos e saber ler e escrever.  Além disso, o cidadão ainda  precisará comparecer pre sencialmente a etapas como  coleta biométrica e exame  médico. Haverá curso teórico gratuito e digital. 

Embora o ministério se  comprometa a disponibilizar  o conteúdo online sem custos, o candidato, se preferir,  poderá estudar presencial mente nas autoescolas. Também está prevista uma “flexibilidade” das aulas práticas  e abertura para instrutores  credenciados pelos Detrans,  a fim de ampliar opções para  o cidadão. O novo modelo retira a exigência de 20 horas- -aula práticas. Agora, a carga  horária mínima será de duas  horas, com permissão para  uso de carro próprio. 

O candidato poderá es colher como fará sua preparação: seja por meio de  um Centro de Formação de  Condutores (CFC) tradicional ou com a contratação  de um instrutor autônomo.  Nenhum profissional poderá  atuar sem credenciamento  oficial: todos passarão por  fiscalização pelos órgãos  estaduais, deverão cumprir  requisitos padronizados nacionalmente e serão identificados digitalmente na CDT.

O texto também prevê  a facilitação dos processos  de obtenção da CNH para  as categorias C (veículos de  carga, como caminhões), D  (transporte de passageiros,  como ônibus) e E (carretas e veículos articulados),  permitindo mais opções de  formação, com o objetivo de  tornar o processo mais ágil e  menos burocrático. Entre os  pontos que ainda carecem  de esclarecimento, estão as  regras específicas para o  uso dos veículos próprios  nas aulas práticas, como  irá funcionar a plataforma  digital para solicitar a CNH,  bem como os procedimentos  para cadastro e fiscalização  dos instrutores. 

Segundo a Senatran, o  Rio Grande do Sul tem o  custo mais alto do país para   se obter a habilitação na  categoria AB. Atualmente, o  valor chega a R$ 4.951,35. Na  contramão, o processo mais  barato ocorre na Paraíba,  onde os futuros condutores pagam R$ 1.950,40. 

Visão dos CFCs 

Para a diretora de ensi no e instrutora teórica do  CFC Reichert, Lirian Lagemann, as mudanças podem  comprometer diretamente  a qualidade da formação de  condutores em todo o país.  Segundo ela, a tentativa de  “baratear a CNH”, como  alega o ministro, pode ter  como consequência a perda  de vidas. Além disso, a cate goria se considera vulnerável  diante da ideia de simplifica ção do processo. 

Lirian assegura que os  anos de experiência lhe dão  o discernimento dos riscos  que as ruas e estradas podem oferecer. Desta forma,  demonstram o quanto habi litar um condutor vai além  do cumprimento de uma  carga horária, assistir víde os ou assinar documentos. Significa preparar pessoas  para compartilhar espaços  com outras pessoas. “Não  existe carteira de habilitação  barata quando o custo pode  ser a segurança humana”,  finaliza. 

Na avaliação do diretor  do CFC Schneider, Jefer son Althaus, as medidas significam um retrocesso e não podem ser encaradas como “flexibilização”, como menciona o governo. Além disso, a resolução pode provocar a desestruturação das autoescolas, principalmente nos âmbitos da demissão em massa dos funcionários e desvalorização dos instrutores.

Desta forma, toda a sociedade tem a perder com o  preparo considerado abaixo  do ideal para o enfrentamento de um trânsito cada vez mais carregado.  Esses dois CFCs são referência para toda  a microrregião de Teutônia. 

O que diz o Detran

Em nota assinada pela diretora-geral, Isabel Friski,  o Detran-RS afirmou que  “reconhece e exalta a democratização do acesso à  primeira habilitação que  fundamenta a proposta”. Por  outro lado, chama a atenção  para a necessidade de “um  cuidadoso e fundamental  período de transição para  que todas as adaptações técnicas, operacionais e de
formação sejam plenamente implementadas, de forma ordenada e sem causar prejuízos ou transtornos aos cidadãos”. O órgão menciona, ainda, crer em ajustes no que foi anunciado.

Decreto “Anti-Resolução”

Paralelamente, o projeto de decreto   legislativo (PDL) 1031/2025, de autoria  do deputado federal, Coronel Meira   (PL/PE) tramita no Câmara e visa sustar os efeitos da resolução, por  conta de supostos erros jurídicos e   ilegalidades, assim que for publicada.  Conforme o texto, a iniciativa do Contran extrapola o poder  regulamentar ao “desestruturar o   sistema de formação de condutores  sem considerar o equilíbrio entre acessibilidade e qualidade”. 

Além disso, o impacto econômico é   classificado como “devastador”. O   parlamentar cita que o setor emprega  mais de 200 mil pessoas e a falta da  da obrigatoriedade causará queda de, ao menos, 77% no faturamento dos CFCs. Uma das consequências seria o fechamento de unidades por todo o Brasil.

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