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ILUSTRE CIDADÃ

“Libras não é uma língua só dos surdos”

O quadro Ilustre Cidadã entrevista Marisa Brandão Leuchtenberger

Por: Marco Mallmann

11/12/2025 | 14:08 Atualização: 11/12/2025 | 14:09
Marisa Brandão Leuchtenberger
Marisa Brandão Leuchtenberger

A professora Marisa Brandão Leuchtenberger é intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Tem 50 anos e é natural de Palmitinho, no Norte do RS. Veio residir em Teutônia com a família aos 7 anos, em 1981, ano em que o município se emancipou, em busca de novas oportunidades. Aluna de escolas públicas, formou-se no Magistério em Gravataí, iniciando o sonho de ser professora. Há 28 anos trabalha na inclusão de surdos e, no momento, cursa mestrado na área, com o objetivo de seguir trabalhando com professores no ensino da Libras.

Como foi o início da tua carreira como professora?

Marisa Brandão Leuchtenberger Fiz o Magistério, em 1993. Depois, fiquei um tempo na Grande Porto Alegre e retornei a Teutônia, iniciando a trabalhar com Educação Infantil, na EMEI Estrelinha, em 1996. Iniciei o curso de Pedagoria, na Unisinos, e concomitante a isso, por intermédio da Secretaria de Educação de Teutônia, fiz um curso preparatório em Bento Gonçalves, nos finais de semana, para trabalhar com surdos. Em 1997, eu já tinha uma turma de cinco alunos.

E como foi o início do trabalho com surdos?

Marisa Foi desafiador. Isso mexe muito com o emocional da pessoa. Eu estava acostumada com as pessoas ouvintes, que falam e se comunicam. De repente, eu tinha cinco alunos surdos na minha frente para me comunicar e ensinar. Muitos tinham comportamento rebelde, mas, depois foram se acalmando, porque foram aprendendo com a Libras. Com as famílias também eram feitos encontros, pois, para quem tem um filho com essa deficiência, não é uma situação fácil. À medida que fui aprendendo e tendo prática, o trabalho foi evoluindo ao natural. Fiz diversos cursos em outras cidades, como São Leopoldo, Caxias do Sul – onde fiz o curso de intérprete de Libras – e outras cidades, para buscar conhecimento e poder atender esses alunos, possibilitando a inclusão deles no ambiente escolar e também no mercado de trabalho. A gente cria um vínculo com essas pessoas, não apenas como professor e alunos, mas uma ligação afetiva para toda a vida. Eles têm a gente como uma referência.

Como é tua atuação em escola atualmente?

Marisa Eu sou professora de Atendimento Educacional Especializado (AEE) pelo município, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Teobaldo Closs, no Bairro Canabarro. Atendo não apenas surdos, mas pessoas com autismo, deficiência intelectual, entre outras.

Desde quando a Libras é oficial no Brasil?

Marisa A Língua Brasileira de Sinais é oficializada e reconhecida no Brasil desde 2002. Cada país tem a sua própria língua e o alfabeto também tem diferença de um país para outro. Além disso, dentro do Brasil também existem os regionalismos, que diferenciam uma palavra, uma expressão, de um lugar para outro.

Desde quando atuas como intérprete de Libras em eventos?

Marisa Existem diferentes leis e em eventos culturais é obrigado existir a interpretação em Libras. O surdo tem o direito, por lei, de ter a interpretação da Libras em todos os âmbitos. Então, é fundamental o setor público difundir essa acessibilidade. Os convites para fazer esse trabalho em eventos se tornou mais frequente a partir de 2018. Antes disso, em outras instituições, eu já fazia esse trabalho, como na Sicredi e nas autoescolas. Aqui em Teutônia temos cinco surdos habilitados com carteira B. O campo de trabalho é bastante grande e legalmente o profissional está bem amparado, já que existe a lei do profissional intérprete. Além de mim, existe outro profissional que veio de fora e uma mãe de um surdo que aprendeu Libras comigo e está estudando também. A gente acaba inspirando outras pessoas.

O que representa pra ti estar nesse trabalho há 28 anos?

Marisa É um sentimento de dever cumprido, de que valeu a pena buscar conhecimentos em diferentes cidades do RS. É um orgulho e uma sensação de que estamos deixando um legado para a sociedade, de ajudar essas pessoas a viverem melhor, de estarem incluídas no mercado de trabalho, de serem felizes. Não tem preço que pague ver as pessoas bem, realizadas e felizes, como cidadão desse país. Para um surdo que não é compreendido, é como para cada um de nós ir a um país no qual a gente não consegue se comunicar, não compreende a língua. Então, tendo essa mediação da Libras essas pessoas conquistam acessibilidade em todos os âmbitos da sociedade. É fundamental seguirmos difundindo isso, ensinando para todas as pessoas. Os alunos querem aprender, porque não é uma língua só dos surdos. Todos podem e devem aprender. O trabalho da gente nunca para. Temos um grande sonho de fundar uma associação que atenda a todos os deficientes aqui em Teutônia, fazendo um trabalho complementar ao que é desenvolvido na Apae. Sinto que eu sou a porta-voz deles.

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