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PLANO DE CONCESSÕES

Município teme cerco de pedágios

Boa Vista do Sul alerta para os impactos do novo modelo de concessão na RSC-453. Com dois pórticos projetados em um trecho de 15,5 km, tanto no caminho para o Vale do Taquari, como para acessar o restante da Serra, o governo local prevê dificuldades

07/03/2025 | 16:05 Atualização: 07/03/2025 | 16:06
Governo de Boa Vista do Sul enviou ofício ao Estado alertando sobre impactos econômico decorrentes da instalação de dois pórticos de cobrança junto aos limites territoriais do município | ALEXANDRE MIORIM
Governo de Boa Vista do Sul enviou ofício ao Estado alertando sobre impactos econômico decorrentes da instalação de dois pórticos de cobrança junto aos limites territoriais do município | ALEXANDRE MIORIM

As transformações previstas pelo Plano de Concessões das Rodovias Estaduais do Bloco 2 para a RSC-453 preocupam a administração municipal de Boa Vista do Sul. Com a perspectiva de implantação de um pórtico de pedágio no modelo free flow em seu território, e outro na cidade vizinha de Carlos Barbosa, o governo local teme os impactos com o encarecimento da logística.

Boa Vista do Sul está localizada em área conhecida como “pé da Serra”, perto do limite com o Vale do Taquari. Dessa forma, o deslocamento para ambas as regiões será taxado pela tarifa. Com a economia baseada na agropecuária, o transporte de insumos e o escoamento da produção fazem parte da rotina dos produtores locais, que dependem da rodovia para suas atividades.

Pela proposta do Estado, o pórtico que será implantado no km 70,5, próximo à Tenda da Rota, custará R$ 4,51; já em Carlos Barbosa, no km 86, o valor será de R$ 5,29.

A prefeita Patrícia Bagatini enfatiza que o setor primário será bastante prejudicado, pois muitos produtores trabalham em regime de integração com empresas localizadas fora do município. “Isso aumentaria o custo de produção de um sistema tão castigado”, ressalta.

Empresários do município também manifestam receio em relação aos novos pedágios. Há preocupação de que empreendimentos busquem outras áreas onde o custo logístico não seja tão elevado, visto que as duas principais rotas serão tarifadas.

Limites cercados

“Temos a plena convicção de que a instalação dos dois pórticos exatamente em nossas divisas para Serra Gaúcha e Vale do Taquari iriam inviabilizar novos investimentos e os que já estão devidamente instalados aqui”, afirma Patrícia.

Outro fator é que a cidade de pequeno porte, de cerca de 2,7 mil, não possui unidades próprias de serviços importantes, como hospital, fórum, delegacia, Ministério Público e universidades. Ou seja, faz parte do cotidiano da comunidade o deslocamento para municípios vizinhos maiores.

Boa Vista do Sul ainda carrega o retrospecto recente de cobrança de pedágio pela empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), sem nenhum investimento relevante no trecho nos últimos dez anos. Atualmente, o município é sede de uma das praças da estatal, localizada no km 78, cuja tarifa mínima é de R$ 5,20.

“Não vamos deixar que o cidadão boavistense pague a conta desse sistema que não funciona, pois nosso povo será o maior prejudicado”, enfatiza.

Em mapa elaborado pelo Informativo Regional, confira a localização dos pórticos previstos no Plano de Concessões: VISUALIZAR MAPA

Ofício ao Estado

A prefeitura de Boa Vista do Sul formalizou sua insatisfação com o modelo de concessão ao encaminhar um ofício à Secretaria da Reconstrução Gaúcha, solicitando uma audiência presencial para discutir os impactos do novo sistema de pedágio. No documento, a administração municipal reforça que a instalação de dois pórticos de cobrança no intervalo de 15,5 quilômetros criaria um “cerco” ao município, limitando o desenvolvimento econômico e penalizando a população local.

O município argumenta que, apesar de apoiar a cobrança de pedágios como modelo de financiamento para infraestrutura, a proposta atual impõe ônus excessivo a Boa Vista do Sul, comprometendo seu potencial de crescimento. Diante disso, a prefeita Patrícia Bagatini pede a revisão da localização dos pórticos, questiona se haverá isenção aos moradores e solicita a sensibilidade do governo estadual para encontrar uma solução mais equilibrada.

Planos do Piratini

Para a RSC-453, o Estado projeta uma série de intervenções. Os trechos a serem duplicados estão situados entre Estrela e Teutônia, além de uma parte em Westfália.

No território de Boa Vista do Sul, a estrada ganhará terceiras faixas alternadas. Até Carlos Barbosa, há previsão de construção de duas passarelas para pedestres, além de quatro rotatórias alongadas. Essas obras estão previstas para acontecer entre o sétimo e oitavo anos de concessão.

Impasse na tarifa

O governo gaúcho prorrogou até 24 de março o prazo da consulta pública referente ao Plano de Concessão das Rodovias do Bloco 2, que inclui a RSC-453 e as ERSs 128, 129 e 130, situadas no Vale do Taquari. Além de alterações nas transformações previstas para as estradas, o custo da cobrança é o principal ponto contestado por líderes regionais e entidades diversas.

O valor de R$ 0,23 por quilômetro rodado é considerado alto na comparação com outras estradas e sistemas de pedágio do RS e do país. O Executivo estadual prevê um aporte de R$ 1,3 bilhão, por meio do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), decorrente do não pagamento da dívida do RS com a União. Líderes locais compreendem que o valor desse subsídio deveria ser maior.

Saiba mais

A concessão do Bloco 2 inclui 414,91 quilômetros de extensão em estradas do Vale do Taquari e do Norte do RS, prevendo uma série de melhorias logísticas, com investimentos que chegam a R$ 6,7 bilhões. Serão 30 anos de concessão, com a implantação do sistema de pedágio no modelo free flow. A cobrança ocorrerá de forma automática, por meio de 24 pórticos a serem instalados.

Ao longo de três décadas, a concessão deverá realizar a duplicação de 244 quilômetros e a implementação de 101 quilômetros de terceiras faixas, além da implantação de dispositivos diversos para qualificar as condições logísticas do RS.

 

 

 

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