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À SOMBRA DO CRISTO

Como inserir Teutônia no novo ciclo do turismo regional?

Com o aumento de visitantes no Vale do Taquari, município se mobiliza para reforçar divulgação dos atrativos e qualificar empreendedores

Por: Marcel Lovato e Marco Mallmann

11/04/2025 | 16:45
No sítio Bela Catarina, em Linha Catarina, Marion e José empreendem há mais de 10 anos e diversificaram os negócios para atender o aumento das demandas | Foto: Marco Mallmann
No sítio Bela Catarina, em Linha Catarina, Marion e José empreendem há mais de 10 anos e diversificaram os negócios para atender o aumento das demandas | Foto: Marco Mallmann

Os olhares estão voltados para o Vale do Taquari. Com a inauguração do Cristo Protetor de Encantado, a região desponta como novo polo turístico gaúcho. Em paralelo, demais municípios se mobilizam para aproveitar o movimento, seja por meio da criação de negócios ou estratégias que potencializem os atrativos locais. É o caso da microrregião.

Criada há 24 anos em Teutônia, a Rota Germânica é o roteiro mais antigo do Vale. Ao longo do tempo, o circuito enfrentou períodos de ostracismo, mas atualmente está ativo. Hoje são 19 empreendimentos e outros três em fase de adesão.

Conforme o secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Turismo, Valdir Griebeler, uma das medidas adotadas recentemente foi a reativação do Conselho Municipal de Turismo (Comtur). O grupo reúne poder público, empreendedores e simpatizantes. Dois encontros foram realizados de desde o início do ano. Entre os pontos debatidos, a necessidade de diversificação e qualificação.

Necessidade de evolução

Griebeler aponta que a Lagoa da Harmonia, por exemplo, é um destino consolidado. Mas Teutônia tem outros atrativos. “Temos de incentivar a digitalização dos nossos empreendedores, a venda de experiências diferenciadas, o conhecimento dos visitantes Além disso, fomentarmos o turismo interno, que desde as crianças na escola até grupos de Terceira Idade, conheçam a cultura, a história, consumam o que é nosso, ajudem a divulgar”, analisa o secretário.

O titular da pasta aponta também que o turista busca, cada vez mais, roteiros personalizados, conforme interesse. Logo, os empreendimentos precisam se adaptar a tal cenário. Para a agente de turismo, Jane Franz, outro fator importante é conhecer de onde vêm e quem são os turistas. Por isso, a partir de um levantamento, está prevista a criação de um banco de dados.

Outro ponto citado é a importância de os negócios estarem em patamares semelhantes de atendimento, a fim de aperfeiçoar o processo como um todo. A profissional mencionou, ainda, a união microrregional. “Temos de fazer construções em conjunto, nos fortalecermos. Não é interessante para Teutônia se desenvolver sozinho”, analisa

Em relação aos eventos, o secretário adjunto da pasta, Bráulio Horn, afirma que houve a necessidade de ajustes no calendário e orçamento para 2025. Logo, a Festa de Maio, a principal atração local, ficará para o ano que vem. Também há expectativa da inclusão de Teutônia em roteiros turísticos de agências de fora do estado. Nessa semana, guias do Mato Grosso do Sul estiveram na cidade.

Compreensão do cenário

Sócio da Agência RS Turismo e ex-presidente da Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales), o empresário Charles Rossner entende que a proximidade entre as cidades é uma das vantagens do Vale. Por isso, cabe aos governos e empresários compreenderem o fluxo, utilizarem de todos os meios disponíveis para chamar a atenção do visitante em deslocamento.

“Cabe muito ao empreendedor nessa hora entender e se posicionar para tal, focar no atendimento ao turista. Entender que o turista vai estar na região em horários onde talvez o seu empreendimento não esteja habituado a trabalhar, tais como feriados, sextas-feiras à noite, sábados e domingos. É importante rever essa questão. Ainda vemos muito isso na região”, analisa.

Para Rossner, Teutônia e municípios vizinhos podem se beneficiar porque estão localizados à margem de rodovias que servem de acesso ao Cristo e o crescimento de opções como restaurantes e meios de hospedagens é uma amostra desse olhar atento.

Uma nova vida ao interior

Dentro das novas tendências do turismo rural, está o empreendimento do casal Marion Hilgemann e José Zimmermann. Eles adquiriram uma propriedade em 2013. A antiga casa enxaimel despertou uma ideia de negócio. Após reformas, a pousada Bela Catarina, em Linha Catarina, interior de Teutônia, começou a sediar eventos e oferecer café colonial, com agendamento.

Pioneiro no turismo rural em Linha Catarina, Everton Augustin implantou parreiral e investe tanto na produção de vinhos, quanto no sistema de “colha e pague”, durante a Vindima | Foto: Eduarda Rückert

Com o aumento da procura, os proprietários perceberam a necessidade de oferecer um espaço para pernoite. Eles iniciaram então a construção de duas cabanas e dois apartamentos. “Começamos a hospedar casais e famílias em novembro de 2024.

A demanda via Airbnb tem sido muito boa, as acomodações estão sempre ocupadas. Nossa proposta é que as famílias e os grupos de amigos possam vir para curtir o dia, aproveitar a tranquilidade, o verde e a natureza”, conta Marion. Um Pub e espaço para cerimônias de casamento serão as próximas atrações. O empreendimento já se tornou sustentável.

Na mesma localidade, em 2010, Everton Augustin adquiriu uma propriedade vizinha, com a ideia de plantar acácia. Como o solo de saibro não era apropriado para este tipo de árvore, a guinada ocorreu quando o educador aposentado, ao lado do irmão Claiton, decidiu implantar parreirais e cultivar diferentes espécies de uvas. “A insolação norte foi ideal, porque aprendi, com os italianos, que os parreirais devem estar cobertos pelo sol já às 9h”, revela Everton.

Hoje, as variedades Niágara e Concord, especialmente, são a matéria-prima para que ele pudesse realizar um sonho de adolescente: a produção própria de vinhos e sucos (branco, tinto e rose), sem agrotóxicos. Sempre na época da Vindima, os Augustin estimulam amigos para visitar o Sítio Timbaúva e realizar a própria colheita. Atualmente, também é oferecido rodízio de pizzas.

Ambos os empreendimentos deram uma nova motivação à vizinhança, que também está melhorando as propriedades, com a reforma das casas enxaimel e os galpões. “Alguns até queriam se mudar daqui, mas quando perceberam como a redondeza se valorizou e passou a receber turistas de todos os lugares, mudaram de ideia”, garante Marion.

Everton busca manter a arquitetura da antiga propriedade e entende que, para impulsionar o turismo rural, a natureza tem que estar preservada. “Este lugar tem muita beleza e tranquilidade. As pessoas buscam isso, um local onde possam contemplar, refugiar-se da correria e dos afazeres do dia a dia”.

Lagoa da Harmonia é a referência turística para Teutônia. Município busca ampliar divulgação de outros locais | Foto: Divulgação

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“A microrregião de Teutônia está muito bem estruturada”

Rafael Fontana é presidente da Associação dos Municípios de Turismo do Vale do Taquari (Amturvales). Para ele, o novo momento do
setor traz benefícios a toda a região.

Com o Cristo Protetor de Encantado, o Vale do Taquari ganha projeção turística internacional. Como este momento pode ser aproveitado por toda a região?

Rafael Fontana – Desde o anúncio, bem como o içamento dos braços e face do Cristo Protetor em 2021, a mídia, tanto nacional quanto internacional, fez a cobertura. De lá pra cá, a curiosidade de visitar um monumento maior que o Cristo Redentor, mostrou que o Vale tem potencial turístico.
Muitos negócios também foram pensados, inaugurados e estão em planejamento em virtude dessa visibilidade. Precisamos mostrar que temos condições de ir além, qualificar nossos empreendimentos, aperfeiçoar os atuais e criar atrativos, fortalecer nossos meios de hospedagem e serviços de alimentação, assim como nossas agências receptivas. E, com isso, fomentar ainda mais a nossa economia do turismo.

A Amturvales tem um papel central na promoção do turismo no Vale do Taquari. Como a entidade enxerga o potencial da microrregião de Teutônia dentro desse contexto?

Fontana – As microrregiões são fundamentais para o desenvolvimento de projetos vinculados a Amturvales, de acordo com a vocação local. Estamos concluindo o projeto de Sinalização Turística nesta região, o que facilita as informações para os moradores e visitantes. Considero que a microrregião de Teutônia está muito bem estruturada, com lideranças políticas experientes, empreendimentos qualificados, que proporcionam uma experiência única ao visitante.

De que forma a Amturvales pode contribuir para o desenvolvimento do turismo especificamente nesta microrregião?

Fontana – A união entre os parceiros, tanto público quanto privado, os projetos integrados bem como toda a estrutura que a Amturvales tem, pode e deve ser utilizada para que a microrregião e a região como um todo seja um polo, um destino turístico consolidado. Turismo é negócio. Sendo assim, tem de ser trabalhado com olhar integrado, pensando na satisfação do cliente. Amturvales tem um compromisso grande e importante, pois em sua essência está no desenvolvimento turístico do Vale do Acolhimento!

Existem projetos específicos ou planos voltados a essa área?

Fontana – Cada região, cada microrregião tem suas peculiaridades, em se tratando de história, cultura, gastronomia. Nosso Vale é sem dúvida, cheio de riquezas. Para tanto, projeto de qualificação como as “Caravanas do Conhecimento”; “Conheça o Vale” tanto para crianças, com cunho pedagógico quanto para grupos de terceira idade faz com que possamos mostrar os nossos atrativos e contribuindo para o sentimento de pertencimento.  A expansão da sinalização turística em toda a região. Busca de recursos para infraestrutura nos municípios. Participação em feiras, rodadas de negócios entre outras formas de promoção e comercialização para aumentar o fluxo de visitantes em nossos municípios e atrativos.

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