Promessas não cumpridas e prazos que se arrastam mantêm a ERS-419 sem perspectiva concreta de recuperação. Ligação crucial entre Poço das Antas, Teutônia e o Vale do Caí, a rodovia segue com buracos, desníveis, ondulações, sinalização precária e acostamento inexistente. Fora do projeto de concessão do governo estadual, a realização de investimentos por parte do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) segue sem previsão.
A informação recente sobre a possível venda do frigorífico de suínos da Languiru aumenta a pressão por uma solução. Após quase dois anos de inoperância, a reativação da unidade – que deve ser adquirida pela JBS – demandará condições logísticas melhores para uma rotina de transporte pesado sobre a estrada. Conforme o prefeito Glicério Ivo Junges (MDB), a assinatura dos contratos de compra e venda do complexo está encaminhada para ocorrer até o dia 12, data do aniversário da cidade.
Com a expectativa de retorno das operações, a busca por melhorias na ERS-419 ganha força. Segundo Junges, o Daer teria garantido a realização de uma obra mais abrangente no trecho durante recente reunião em Porto Alegre, inclusive, com prazo para conclusão. O recapeamento de toda a extensão seria feito até meados de setembro, com possibilidade de conclusão antes, caso as condições meteorológicas permitam.
Apesar da promessa, o histórico de descumprimentos de anúncios em relação à estrada gera desconfiança. Ainda assim, a presença da JBS no município pode ampliar a pressão sobre o Estado, principalmente se a multinacional se engajar nesta causa. Desde a pavimentação, em 1996, os 15 quilômetros receberam apenas reparos paliativos, na maior parte das vezes operações tapa-buracos, insuficientes para a importância da via.

Governo de Poço das Antas comunicou negociação avançada em torno do frigorífico de suínos. Unidade deve ser repassada ao Sicoob para posterior venda à JBS. Reativação ampliará fluxo na rodovia (Foto: Alexandre Miorim)
Riscos constantes
Os problemas começam no Bairro Boa Vista, ainda em Teutônia, e seguem por toda a extensão, agravando o risco de acidentes tanto para condutores quanto para quem vive à margem da estrada. A última intervenção ampla ocorreu entre junho e julho de 2023, quando foi refeito um aterro no lado de Teutônia, destruído após enxurrada.
Um dos pontos mais críticos é na altura da Linha Capivara, onde diversos buracos e desníveis são mais acentuados. A necessidade de desviar das falhas no asfalto fazem com que os motoristas invadam a faixa contrária, elevando os riscos de acidentes.
Volnei Rosinski de Oliveira mora às margens da ERS-419, na altura do km 12, próximo ao limite entre os dois municípios, e utiliza a rodovia diariamente. Para ele, os perigos são constantes devido à pista deteriorada e o tráfego intenso de veículos pesados. Segundo Oliveira, os trabalhos de “tapa-buracos” são desfeitos logo nas primeiras chuvas.
Chamados de “borrachudos”, diversos remendos no asfalto resultantes das intervenções paliativas são percebidos ao longo de toda a extensão. Nas proximidades do km 9, em Pontes Filho, o morador Ariberto Müller enfatiza ainda outro problema: em dias de chuva forte, a água se acumula sobre a pista, em virtude dos bueiros entupidos. Ele aponta que já retirou terra das valetas com o próprio trator, mas que agora recorreu ao poder público.

Perto do limite entre Teutônia e Poço das Antas, condições da pista induzem trânsito na contramão (Foto: Marco Mallmann)
Reconfiguração
Prefeito de Teutônia e presidente da Associação dos Municípios do Sol Nascente (Amsol), Renato Altmann, defende a reclassificação desta e de outras estradas da região como a VRS-835, em Paverama, e ERS-129, no trecho de Colinas. O tema foi debatido no encontro que redefiniu a entidade, há pouco mais de um mês.
“Esta rodovia está no perfil de manutenção, o que significa somente reparos. E nós precisamos mudar esse perfil para investimentos. Assim, será possível receber melhorias efetivas na estrutura da rodovia, com calçamento e sinalização adequados. Com certeza trabalharemos unidos, junto com os prefeitos da Amsol, para que tenhamos mais força na interlocução de demandas microrregionais”, afirma Altmann.
Segundo o gestor, as administrações de Teutônia e Poço das Antas pretendem agendar uma audiência com o governo e o Daer para reforçar a urgência dos trabalhos na rodovia, bem como pleitear a alteração. A expectativa é de que essa reunião ocorra nas próximas semanas.

Entre o km 9 e o km 10, em Pontes Filho, saibro substitui asfalto em buracos formados na pista, exigindo a atenção dos motoristas. Local ainda aguarda recolocação de pavimento (Foto: Marco Mallmann)
Informações desencontradas
O Daer não confirma as informações repassadas pelo prefeito de Poço das Antas acerca das intervenções na ERS-419 que ocorreriam até setembro. De acordo com a autarquia, a estrada está apenas na “programação para trabalhos de conservação a serem realizados nos próximos meses”.
Em agosto do ano passado, a assessoria de imprensa do Daer havia passado a informação ao Informativo Regional de que a estrada seria contemplada com recursos do Fundo Estadual de Recuperação das Rodovias (Funrigs). Em novo contato realizado pela reportagem nesta semana, no entanto, a assessoria negou essa previsão.
E os R$ 3 milhões?
Tão recorrentes quanto os debates regionais acerca da importância da recuperação da rodovia, são as promessas. No dia 25 de fevereiro de 2022, no Palácio Piratini, o secretário estadual de Logística e Transportes, Juvir Costella, e o governador Eduardo Leite anunciaram a destinação de R$ 371,1 milhões, via Programa Avançar, para melhorias em estradas de diversas regiões. Entre as contempladas, estava a ERS-419. O aporte prometido era de R$ 3 milhões para a rodovia.
Meses depois, o Daer anunciou que os trabalhos começariam em janeiro de 2023. Porém, isso não se concretizou. Conforme matéria publicada pelo Jornal Informativo em 10 de março daquele ano, Poço das Antas foi representada no ato pelos então vice-prefeito, Laurentino Flach, secretário da Fazenda, Alfredo Edmundo Klein e presidente do Legislativo, Maicon Luis Stuermer.