Tabelião aposentado, Jozué da Silva Pereira é natural de Triunfo. Iniciou sua carreira como funcionário do antigo Instituto Nacional de Previdência Social, o INPS (hoje INSS), em Montenegro, onde atuou de 1969 a 1978.
Depois de realizar concurso, passou a exercer a atividade de notário público (registrador). Foi nomeado em 1978, pelo então governador do RS, Sinval Guazelli.
Trabalhou nos tabelionatos em Riozinho, Harmonia e Triunfo, somando 17 anos. Veio a Teutônia e assumiu o tabelionato em 1995, permanecendo até a aposentadoria, em 2021, totalizando mais 26 anos de dedicação.
Aos 78 anos, cuida da saúde, curte os 3 filhos (2 naturais e 1 adotivo), sete netos e os bisnetos, que até o final do ano já serão 6. Ao longo de seu trabalho, sempre teve como “bíblia” o Código Civil, a Lei dos Registros Públicos, as Constituições Federal e Estadual e o Código de Organização Judiciária.
O que é o tabelionato, ou serviço notarial?
Jozué da Silva Pereira – É aquele serviço que depende da vontade das partes. O serviço notarial visa garantir a segurança para a população em geral. É um ato de fé pública que deve ser eficiente, produzir os efeitos e ter garantia jurídica.
O valor do serviço é determinado pela Assembleia Legislativa e publicado pelo Tribunal de Justiça. Mas nosso trabalho vai muito além disso. Ouvimos todas as histórias das famílias, suas queixas e problemas. O notário público, ou registrador, é o único profissional que dá consulta e não cobra.
Qual o grau de responsabilidade do trabalho do tabelionato?
Jozué – Nosso trabalho exige muita responsabilidade e sempre cobramos isso dos nossos colaboradores, porque quando algo for feito e causar prejuízo para as partes, isto repercutirá sobre o titular. Nosso trabalho foi dentro do nosso dever. Acredito que o servidor público tem como obrigação trabalhar de forma correta e atender bem a população.
Muitas vezes, quem procura os serviços não sabe direito o que precisa. Então, é fundamental que o servidor tenha capacidade de, se não responder na hora, pedir tempo para estudar, pesquisar e dar a resposta correta.
Minha esposa, a Vera, sempre teve esse cuidado. Ela trabalhava no balcão, atendendo o público, e não aceitava que as pessoas fossem feitas de “peteca”, mandadas de um lado para outro. Nossa diretriz sempre foi esta: as pessoas precisam ser atendidas como gente, com o devido respeito, independentemente de cor, valores ou posição social.
Como foi a receptividade em Teutônia?
Jozué – No início foi bem difícil. O pessoal precisou conhecer o trabalho. Porém, logo conquistamos a confiança da comunidade. Aliás, conquistar o respeito e a confiança é o dever de todo o ser humano.
O prefeito, na época, Elton Klepker (in memoriam), sempre me tratou muito bem, com fidalguia. Com os presidentes das cooperativas, com os gerentes de bancos, sempre tivemos uma ótima relação.
Facilitávamos o trabalho, sempre que possível, indo ao encontro deles para colher assinaturas. Da mesma forma, fomos a muitas casas, por todo o interior, colher assinaturas de pessoas adoentadas, acamadas, para que não precisassem se deslocar até o tabelionato. Sempre que possível, trabalhamos levando em conta a humanidade, facilitando a vida das pessoas.
Como foi a evolução do trabalho ao longo dos anos?
Jozué – A evolução foi fantástica. Viemos da máquina de escrever, do papel carbono, do livro manual, produzido em gráficas especializadas, para as mídias eletrônicas.
O que o senhor deixou de legado nesse serviço para a região?
Jozué – Posso dizer que deixamos um serviço notarial atualizado, o arquivo todo digitalizado, incluindo centenas de livros de notas, inclusive antigos livros manuscritos. Contei com a presteza da minha filha, Maria Jael, que cuidou dessa parte de organização.
Isso me deixou tranquilo e realizado, porque fomos passíveis de várias fiscalizações e vistorias e nunca tivemos uma única reprimenda, voto de repúdio ou apontamento em relação ao nosso trabalho.
Acho que deixamos um legado prestado à altura da comunidade de Teutônia, cidade que a gente acompanhou esse crescimento estrondoso, a olhos vistos, nesse quarto de século.