A taxa de fecundidade é a menor da história. Conforme novos dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta semana, o número médio de filhos por mulher chegou a 1,6. Todavia, o ideal para fins de reposição populacional no decorrer das gerações, segundo entidades internacionais, seria de 2,1.
Também houve alta na proporção de brasileiras que decidem não serem mães, de 12% em 2010 para 16% no levantamento mais recente. Tais dados demonstram o quanto o fenômeno conhecido como “Inversão da Pirâmide Etária” ganhou força, principalmente, na última década e será ainda maior nas próximas.
No Rio Grande do Sul, a proporção de idosos chega a 20,15%, a maior do país. Estimativas oficiais do instituto apontam um Brasil com 25,5% de idosos em 2060. Hoje, são 9,2%. Consequentemente, a expectativa de vida deverá chegar a 82,7 anos no período.
Incremento no 60+
De acordo com o coordenador regional do IBGE, Paulo Hamester, todos os municípios da microrregião apresentaram acréscimos populacionais próximos ou acima das médias nacional e estadual nessa faixa etária no período compreendido entre os dois censos. Ambas foram de 5% e 6,5%, respectivamente. Em destaque, Boa Vista do Sul.
No município de 2 mil habitantes, o incremento chegou a 7,5% nos residentes da terceira idade, o que contribui para a liderança do ranking na região.
Na sequência, aparecem Paverama, 6%; Poço das Antas, 5,8%; Teutônia, 5,6% e Westfália, com apenas 2%
Mesmo que as cinco cidades tenham apresentado ganho populacional na “base da pirâmide” (0 a 9 anos), os índices são baixos.
Na maioria, não chegam a 1%. A exceção é Westfália, onde a alta foi maior, atingiu 2,2%. Para Hamester, a questão está ligada à economia. “A oferta de emprego ao longo dos anos e a forte atuação do setor primário, por exemplo, atraíram pessoas, fizeram com que se estabelecessem e formassem famílias”, aponta.
Quando analisamos os números gerais, Boa Vista do Sul também mantém a liderança, com 30,01% dos moradores a partir dos 60 anos. Logo depois, aparece Poço das Antas, com 26.85%; Paverama, com 23,20%, Westfália, com 21,59% e Teutônia, 18,20%. As médias foram calculadas a partir da população divulgada pelo Censo 2022.
Desafios sociais
A economista e presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Cintia Agostini, aponta que uma das questões centrais é a Previdência. Afinal, há um número crescente de aposentados e menor de contribuintes ativos. Logo, o sistema está pressionado. Como se trata de um tema dinâmico, novas mudanças deverão ocorrer futuramente, a fim de dar conta da equação mais idosos/ menos jovens.
Em paralelo, a profissional ressalta a importância de cada município proporcionar qualidade de vida para essa faixa etária, em áreas como saúde, assistência social, lazer e entretenimento. Ou seja, políticas públicas apropriadas às necessidades. “Essas pessoas são cada vez mais ativas, querem viver e precisam ter um atendimento diferenciado. De plenas garantias de autonomia e liberdade. A sociedade, logo, deve se engajar neste assunto, validar a preservação de tais direitos. É uma construção coletiva”, analisa Cintia.
À medida que a idade avança, o acompanhamento, geralmente, precisa ser mais abrangente. A economista cita o recente advento dos chamados “Centros-Dia”, que contam com recursos federais para implantação em algumas cidades.
Neles, os idosos passam o dia inteiro e possuem diversas atividades. Também houve aumento no número de clínicas e asilos. Em ambos os casos, crescem os custos. Então, é indispensável constituir espaços e estratégias que respondam à crescente demanda por cuidados especializados.
Consumidor em alta
Contudo, há outro aspecto ainda mais evidente: o alto poder de consumo da terceira idade e as oportunidades amplas de negócios.
Segundo Cintia, o estereótipo do idoso que fica em casa, apenas cuida dos netos e “não aproveita a vida” faz parte do passado.
Hoje, ele viaja, faz compras, vai a bares e restaurantes. Tem uma vida social. “Há um novo mercado consumidor, com demandas específicas por produtos e serviços. Essas pessoas buscam e necessitam de itens diferentes, adaptados às suas condições. A cadeira, o móvel, até os itens de tecnologia devem ser pensados para atender esse público. Cabe ao empreendedor estar atento”, comenta Cintia. Outro fator importante é que muitas famílias dependem das aposentadorias dos idosos para o sustento parcial ou integral.
“É preciso ir além”
Presidente da Associação dos Grupos da Melhor Idade de Teutônia, Otávio Hamester enfatizou a necessidade de uma luta constante por melhores condições aos 60+. “Houve evolução com o passar dos anos, mas é possível ir além em questões como acessibilidade e comportamento. Ainda há falta de respeito na faixa de pedestre e alguns proprietários não mantêm suas calçadas em dia. Alguns lugares sequer têm”, argumenta.
Em relação aos encontros, bailes e demais atividades de integração, como o Vôlei Câmbio, Otávio defende a importância para a autoestima e bem-estar, fatores importantes para um envelhecimento feliz e saudável. Nesse sentido, destaca que um dos sonhos da associação é contar com um espaço próprio para os eventos. Contudo, essa realização depende de apoio externo.
Teutônia possui 13 grupos ativos. Juntos, essas organizações abrangem cerca de 2 mil componentes. Em alguns deles, como os próximos às divisas, há participações de integrantes de municípios vizinhos.
Como os municípios se preparam?
O Executivo teutoniense afirmou que o tema exige uma abordagem intersetorial. Nesse sentido, é feito acompanhamento das demandas junto ao Conselho Municipal do Idoso para troca de ideias, bem como com a Associação.
Paralelamente, ações voltadas ao esporte, acessibilidade e melhorias nas sinalizações estão em fase de desenvolvimento. O município afirma, ainda, que diversas oficinas voltadas para essa faixa etária são oferecidas no Projeto Teutônia Cultural, como artesanato, oficinas de pintura a óleo e teatro. “A adesão é grande, pois se trata de uma maneira de se manterem atualizados, ativos ou inseridos na comunidade”, complementa.
Em Poço das Antas, há a intenção de erguer um centro cultural em um antigo imóvel na área central, com ambientes especialmente pensados para a utilização dessa faixa etária. Conforme o secretário de Administração, Romeu Forneck, é um investimento que privilegia, também, a saúde mental. Paverama, Westfália e Boa Vista do Sul investem em oficinas e programações para atender a esse público.

Em Teutônia, Associação dos Grupos da Melhor Idade oferece atividades esportivas como o Vôlei Câmbio
De acordo com o Executivo de Paverama, são cinco grupos de convivência vinculados ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras). São oferecidos passeios, atividades físicas e rodas de conversa. Já a Emater desenvolve um trabalho com os Grupos do Lar nas comunidades rurais, com foco em temas como alimentação saudável, educação financeira e saúde emocional.
No primeiro semestre, o Município se inscreveu no edital do Fundo de Direito Difuso, do Ministério Público, para receber um Centro de Convivência para a Pessoa Idosa. O processo está em análise. Em Westfália, conforme a Administração, são oferecidas atividades que promovem a integração intergeracional, tais como o Vôlei-Câmbio, Campeonato de Canastra, e oficinas no Cras. O município conta com 4 grupos, que se reúnem mensalmente ou em datas festivas. Boa Vista do Sul não retornou às solicitações.

Irna Meyring, 64, e Marise Schaeffer, 63, realizam caminhadas e valorizam o contato com a natureza.