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TERRA DE OPORTUNIDADES

Sem fronteiras para empreender

Entre apostas e recomeços, negócios conduzidos por estrangeiros ganham força e aquecem economia teutoniense

Por: Marcel Lovato

11/07/2025 | 14:00 Atualização: 11/07/2025 | 16:09
Com longa experiência no setor de comércio, Jiangzhou Huang enxergou uma oportunidade de mercado em Teutônia e se tornou sócio da Xin Xin Presentes, no Bairro Languiru. Foto: Sara Ávila
Com longa experiência no setor de comércio, Jiangzhou Huang enxergou uma oportunidade de mercado em Teutônia e se tornou sócio da Xin Xin Presentes, no Bairro Languiru. Foto: Sara Ávila

Um local propício para se reinventar ou expandir os negócios. É desta forma que Teutônia se apresenta cada vez mais no radar dos empreendedores estrangeiros. Provenientes de vários países, realidades distintas e com trajetórias marcadas pela superação, eles enxergam um ambiente favorável ao desenvolvimento e qualidade de vida. Ao mesmo tempo, contribuem para fortalecer a integração cultural. São os casos de Khadim Gueye, Jiangzhou Huang e Vanesa Pestchanker.

Mais conhecido como “Bambaji”, em referência a um líder religioso do Senegal, Khadim Gueye (29), é natural de Louga, no noroeste do país. Veio para o Brasil logo após completar a maioridade. Fui ‘cabeçudo’”, define. Uma rápida passagem que se tornou permanente.

Primeiro, em São Paulo. Depois, Passo Fundo, Venâncio Aires, Paverama – onde trabalhou na coleta seletiva – até se estabelecer em Teutônia há 7 anos. Em quase todas, foi vendedor ambulante. Na maior parte do período, uma trajetória solitária.

Especializado noconserto de produtos eletrônicos, Bambaji realizou o sonho de ter seu próprio negócio e já expande operações. Foto: Sara Ávila

Das ruas às duas lojas

Khadim foi o primeiro senegalês a vir para os três últimos municípios. Por aqui, empreendeu com uma loja de roupas, posteriormente vendida, e outra de produtos eletrônicos e assistência técnica, a Africell, no Bairro Canabarro. Se tornou referência. Ter ponto fixo significou a conquista de um sonho e a profissionalização do negócio.

“Fiz estudos de mercado, tive persistência, fé em Deus e muito trabalho. Era preciso acreditar, mesmo com o início complicado. Onde se tem paz, tudo prospera”, afirma Khadim. Nas entrelinhas, o trecho final da frase anterior faz referência à crise institucional e os conflitos armados frequentes em algumas áreas do Senegal.

No âmbito de sua atividade, ele destaca que aprimorou o conhecimento ao longo do tempo por meio de cursos internacionais. Essas atualizações contribuíram para fidelizar a clientela. O empreendedor se considera “um filho do comércio”, pois a atividade está no DNA de sua família. Parentes atuam em segmentos diversos como eletrônicos, produtos agrícolas e até peças para automóveis.

Para o senegalês, o povo teutoniense é acolhedor, o que contribuiu para rapidamente se sentir bem na cidade. Ao mesmo tempo, admite ter um coração dividido entre o Brasil – neste ano abriu a segunda unidade, agora no Bairro Languiru – e o Senegal, sobretudo, pela saudade da família. As visitas são anuais. Atualmente, ele possui sobrinhos no Amazonas e alguns amigos em outros estados.

Um chinês em terras germânicas

Assim como outras cidades, Teutônia conta, desde maio, com uma loja comandada por um chinês. À frente da Xin Xin Presentes no Bairro Languiru, Jiangzhou Huang (30) adotou uma estratégia para facilitar a rotina de atendimento aos clientes e diálogo com os funcionários. Internamente, é chamado pelo apelido “Johnny”.

Conforme Jiangzhou, que vive sozinho em Teutônia, a escolha pelo município se justifica pela oportunidade de mercado. Afinal, até então, não havia estabelecimento conduzido por um compatriota, diferentemente de cidades próximas, como Estrela e Lajeado. Além disso, apostou no crescimento local. A Xin Xin Presentes possui uma loja em Campo Bom.

Natural de Jiangmen Taishan, província de Guangdong, no sudeste chinês, Jiangzhou está no Brasil desde os 19 anos, quando chegou em São Paulo para trabalhar com os tios. Mais tarde, rumou para o Rio de Janeiro, Paraná e quatro municípios catarinenses. Em todas, sempre trabalhou em estabelecimentos conduzidos por chineses. Os pais e a irmã possuem uma pastelaria na capital paulista. O contato com eles ocorre, geralmente, por telefone.

No que tange aos costumes, menciona que os brasileiros não têm o hábito de consumir chá em larga escala, diferentemente dos chineses. Embora considere o chimarrão com aspecto semelhante às bebidas da terra natal, ainda não experimentou. Por outro lado, já saboreou (e apreciou) o churrasco.

“Estou gostando muito da cidade, está além das nossas expectativas. Às vezes, a comunicação fica um pouco difícil, mas eu vou me adaptar com o tempo, conforme ocorreu nos outros estados”, garante Jiangzhou. A ajuda dos funcionários tem sido fundamental nesse processo, além da leitura de livros e outros materiais.

“Agora somos teutonienses”

Há quase 24 anos, Teutônia conta com a Alhocas, empresa especializada no processamento de alimentos no ramo de temperos e condimentos à base de alho fresco. Atualmente, a empresa é comandada por Vanesa e Hugo Pestchanker, naturais de Buenos Aires, Argentina.

Segundo Vanesa, seu pai iniciou o empreendimento junto com outros sócios. O grupo viu um mercado promissor no Brasil, impulsionado pelo consumo interno e população. Com apoio do Sebrae, o grupo foi incentivado a escolher entre três municípios para se instalar: Teutônia e Montenegro, no estado, além de uma cidade de Santa Catarina.

A Capital do Canto Coral foi a primeira e única a ser visitada, principalmente em função da acolhida

Vanesa reescreveu a sua história ao ingressar em uma nova carreira ao lado do pai, Hugo. A dupla está no comando da Alhocas há mais de duas décadas. Foto: Arquivo Pessoal

calorosa de dirigentes de cooperativas e oferta de condições favoráveis para a vinda da Alhocas. Em meados de 2002, a sociedade foi desfeita e Hugo ficou sozinho no comando.

“Meu pai precisava de alguém fixo na cidade para gerenciar e a Argentina estava numa época economicamente conturbada. Eu e meu marido tínhamos dificuldades para exercermos as nossas profissões de arquiteta e fisioterapeuta. Então, decidimos vir para cá com a nossa filha de 4 anos”, lembra Vanesa.

Inicialmente, os pais da empresária se revezavam entre Teutônia e Buenos Aires, por isso a necessidade de apoio no gerenciamento.

Então, ela auxiliou no comando, enquanto que seu esposo atuou com as vendas. Um início desafiador, dos pontos de vista corporativo, afinal a empresa precisava conquistar o mercado; e social, no âmbito do idioma e diferenças nos costumes.

Para Vanesa, o maior desafio foi se inserir na comunidade, o que requereu tempo. A participação em grupos de voluntariado como o Lions Clube, Mulheres Empreendedoras e a Associação Regional Cultural e Artística (Arca) fez toda a diferença. Criaram-se vínculos afetivos e identificação com a realidade local.

“Eu acredito que o município atrai estrangeiros, pois oferece condições de moradia e trabalho. É pujante, tranquilo. Como éramos de Buenos Aires, foi uma mudança grande e difícil. Agora somos teutonienses”, conclui.

MEIs em destaque

Conforme levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a maioria dos empreendimentos conduzidos por imigrantes estão enquadrados como Microempreendedores Individuais (MEI). Até maio, eram 85.433 CNPJs ativos nessa categoria, o maior da história. Destes, 66% são oriundos de países latino-americanos, especialmente Venezuela, Colômbia, Argentina e Uruguai.
Em relação ao mesmo período do ano passado, houve alta de 11%. Se compararmos com 2019, o acréscimo é ainda mais expresivo: chega a 99%. Com 6,7 mil MEIs estrangeiros, o Rio Grande do Sul é o quarto no ranking nacional, atrás de São Paulo (32,9 mil), Santa Catarina (9,9 mil) e Paraná (9 mil).

 

 

 

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