A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Teutônia foi fundada em 12 de novembro de 1991 por um grupo de pessoas da comunidade. Entidade sem fins lucrativos, sua criação foi motivada principalmente pela dificuldade de acesso ao atendimento especializado, que era localizado em Estrela.
Prestes a completar 34 anos, a Apae Teutônia atende mais de 400 pessoas com deficiência intelectual ou múltipla, desde crianças que ainda não caminham até integrantes da terceira idade. Com o incremento das atividades e melhorias e ampliações na infraestrutura, ao longo dos anos a entidade trouxe ao protagonismo social muitas pessoas que viviam no anonimato ou não tinham visibilidade por razões diversas. Desenvolver a autonomia, ensinar habilidades que favorecem o ingresso no mercado de trabalho, ou mesmo instrumentalizar a prática esportiva são tarefas que a organização não-governamental vem desenvolvendo com destaque.
Para ampliar as possibilidades na área do desporto, um dos grandes objetivos da entidade é ter seu ginásio próprio. O valor total do projeto é estimado em cerca de R$ 2 milhões, mas a ideia é realizar a construção por etapas. Para isso, recentemente foi encaminhado um projeto junto ao Fórum de Teutônia, solicitando aproveitamento de recursos dos Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) para a realização da primeira parte da cobertura da quadra existente.
Atuação integrada
A Apae atende em três áreas. Na Educação, mantém a Escola de Educação Especial Crisálida e o Centro de Atendimento Educacional Especializado Crisálida. Assim, a escola está habilitada para atendimento em Educação Infantil, Ensino Fundamental (anos iniciais) e Jovens e Adultos, para alunos que não frequentam o ensino comum, além de atendimento educacional especializado para alunos do ensino comum.
Na área da Saúde, é conveniada com o SUS desde 2006 para o atendimento a pacientes em reabilitação e desenvolvimento neuropsicomotor e para consulta médica em atenção especializada na área de neurologia. Os atendimentos oferecidos também abrangem psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia e estimulação precoce.
No âmbito da Assistência Social, o atendimento garante direitos e acesso a programas sociais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Passe Livre. Neste setor, em média, 50 usuários são aten-didos, nos turnos da manhã e da tarde, visando desenvolver a independência e autonomia, além de proporcionar a socia-lização. Nesta área, acontece o acompanhamento social da família e a busca de projetos para melhorar a qualidade dos atendimentos.

Com Síndrome de Down, Lucimar Moureira produz peças de crochê nas oficinas de artesanato | Foto: Sara Ávila
A diretora da Apae Teutônia, Raquel Brackmann, lembra que, no passado, as pessoas com algum tipo de deficiência ficavam em casa, muitas vezes escondidas da sociedade. “A Apae vem com a proposta de incluir estas pessoas, de fazer valer os direitos que elas têm, inclusive pela Lei Brasileira de Inclusão”. No mês de agosto, de 21 a 28, na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, a entidade promove atividades específicas para demonstrar as capacidades e potencialidades dos alunos.
Raquel enfatiza a importância do resgate do indivíduo para a sociedade. Muitas vezes, não nos damos conta desse desenvolvimento, da mudança na vida dessas pessoas, que hoje passam a ter um lugar para frequentar. E a mudança no papel social não é apenas a inclusão na escola, mas também na sociedade, fazer com que ela tenha direito a trabalhar, de conquistar suas coisas. “Isso dá dignidade”, completa.
Atualmente, a Apae atende cinco municípios, através de parcerias com as administrações públicas: Teutônia, Paverama, Fazenda Vilanova, Poço das Antas e Westfália, além de prestar atendimento clínico para o município de Taquari. Para suprir a demanda, conta com uma equipe de 32 funcionários. A diretoria, totalmente voluntária, é composta por 20 pessoas.
Evolução gradativa
No início, a Apae realizava seus atendimentos numa sala cedida pelo CNEC/leceg. Aos 52 anos, Jones Sebastião Nunes de Moraes se destaca na prática de bocha paralímpica. Depois, passou ao Lar de Idosos Opa Haus. Eram poucos usuários, que foram aumentando gradualmente, até que, em 1995, foi inaugurada a sede da entidade, construída pelo poder público de Teutônia, na administração do primeiro presidente, Pedro Hauschild, que também foi cofundador.

Sede da entidade foi construída pelo poder público municipal e inaugurada em 1995 | Foto: arquivo da Apae Teutônia
Ana Carolina Klein Gallas atua desde 1996, na sede atual. Ela realizava o atendimento múltiplo, mesmo sem muita experiência. “A partir dali, começamos a fazer uma procura, um resgate, para trazer os alunos com deficiência para a escola especial. Começaram a vir muitos adultos e, com o tempo, passamos a organizar oficinas para desenvolver atividades de artesanato”.
Ela reforça que a Federação das Apaes criou etapas para a profissionalização e que a entidade teutoniense acompanha, desde então, o processo de adaptação dos alunos às empresas. Os que não entram no mercado, permanecem desenvolvendo atividades de produção nas oficinas.
Ao longo desses anos, Ana Carolina acompanhou a evolução gradativa da entidade. “Hoje a sociedade consegue ver a Apae realmente como uma escola, como um processo onde as pessoas com deficiência têm voz e vez. Elas precisam de alguém que acredite junto. E isso a Apae Teutônia mostra muito bem, todos os talentos e capacidades que os nossos alunos têm”.
Esporte e autonomia
Professora de Educação Física e coordenadora de Projetos, Evelin Elisa Aschebrock Pacheco atua na entidade desde 2013. Desde logo, ela percebeu o interesse dos alunos e os ganhos que a prática desportiva proporciona às pessoas com deficiência.
“Começamos a buscar algo a mais, oferecer diferentes modalidades paralelas às aulas de Educação Física, em forma de oficinas, no turno oposto, conforme o interesse e a habilidade deles”. Ela conta que a primeira modalidade foi o atletismo, mas que a bocha paralímpica foi uma ótima opção para os que possuíam limitações físicas. Elas passaram a participar de competições, a treinar e manter uma alimentação mais saudável, tendo uma qualidade de vida maior.
Evelin relata que, na Apae Teutônia, dentro do projeto +Paradesporto, com recursos do governo do RS, além da bocha adaptada, os alunos participam das modalidades paralímpicas de atletismo e futsal, muitos já com conquistas estaduais. Tênis de mesa, badminton e snowboard também são modalidades oferecidas.
“Para muitos alunos, o esporte aqui na Apae passou a ser o objetivo de vida. E quando eles treinam com comprometimento, melhorando suas performances, com apoio da instituição e das próprias famílias, eles podem almejar a participação em eventos de maior porte, como os Jogos Paralímpicos, por exemplo”, sustenta.
Para incrementar o desenvolvimento esportivo, Evelin aponta a área coberta como uma necessidade, porque os treinos estão sendo realizados na área de convivência, que, além de ser pequena, serve para múltiplas atividades.

Desde 2023, Apae Teutônia conta com uma quadra poliesportiva, construída com recursos do Foro da Comarca de Teutônia. Em dias de chuva ou sol intenso, porém, o espaço não pode ser utilizado | Foto: Sara Ávila

Entre os sonhos da entidade, a construção de um ginásio próprio. Estimado em cerca de R$ 2 milhões, o projeto deve ser realizado por etapas, sendo a primeira a cobertura parcial da quadra. Para isso, conta com contribuições da sociedade | Foto: divulgação
Exemplo de perseverança
Com 52 anos, Jones Sebastião Nunes de Moraes é beneficiado pelos serviços da Apae Teutônia desde 1995. Desde o nascimento, possui deficiência física de paralisia cerebral, com intelectualidade preservada.
Foi através da entidade que ele, com muita dedicação, desenvolveu habilidades artísticas nas áreas da dança, artes gráficas e poesia, sempre com o apoio da professora Sônia Lúcia de Souza Gomes. No esporte, Jones se destaca na prática de bocha paralímpica.
“A Apae é muito importante para mim, porque ela mudou muito a minha vida”, afirma, com gratidão por tudo que aprendeu ao longo das três décadas em que frequenta a instituição. “Antes eu não sabia tantas coisas, mas agora participo de várias atividades”.

Aos 52 anos, Jones Sebastião Nunes de Moraes se destaca na prática de bocha paralímpica | Foto: Sara Ávila
Como apoiar
A presidente, Eliane Abel, assegura que o apoio da sociedade para os projetos e eventos é grande, assim como dos poderes públicos dos municípios parceiros. No entanto, reforça que a entidade está sempre atenta aos editais, inscrevendo projetos, assim como no Fundo Social da Sicredi Ouro Branco RS/MG. “É através deles que obtemos recursos para melhorias na infraestrutura. Conseguir nossa quadra coberta é um sonho”, completa Eliane.
Para apoiar a Apae, o contribuinte pode escolher a entidade como beneficiada ao se cadastrar no programa Nota Fiscal Gaúcha e exigir a emissão da nota fiscal nas compras. Também pode fazer uma doação mensal de qualquer valor na conta de energia elétrica da Certel. Apostando no Tri Legal, as pessoas também contribuem. Ainda é possível as pessoas físicas e jurídicas fazerem doações através da Sicredi, agência 0119, conta corrente 40634-1.