Antônio Lopes, o Tio Tony, é sociólogo, dramaturgo, professor, poeta e palestrante. Pós-graduado em Artes Cênicas e Produção Cultural, mestrando em Psicologia da Educação, é o criador da companhia “Teatro Social”. É reconhecido como pioneiro no RS com o espetáculo “A Paixão de Cristo”.
O que te fez despertar para o lado artístico?
Tio Tony – Foi uma inspiração mesmo. Comecei fazendo poesias, depois tive uma participação no colégio, onde fiz o papel de noivo no Casamento Caipira. Desde então, me apaixonei pelo teatro, passei a escrever roteiros e atuar, mesmo por instinto, porque no lugar onde eu morava, em Montenegro, não tinha acesso a espetáculos teatrais. Fui escrevendo por conta, depois comecei a fazer cursos, busquei formação e venho circulando desde 1988. Tive algumas passagens pelo circo, pelo rádio, participações na televisão e no cinema.
Quais tuas principais realizações, em termos de encenações?
Tio Tony – “Fuga, o submundo das drogas”, é um espetáculo que está em cartaz desde 1994, ininterruptamente. Foi apresentado todos os anos, exceto durante a pandemia. Outro projeto se chama “No meu corpo não”, que conta com o espetáculo infantil de mesmo nome e a peça para adultos “Quando o segredo gritar”. Já levamos ambos para várias cidades do RS, SC e PR. Tem o espetáculo “Quem mete a colher”, que aborda a violência contra a mulher. Hoje nosso carro chefe é a peça “Dom Quixote”, além do “Palco Mambembe”, com o qual circulamos e fazemos espetáculos de rua. Temos “Contos de Natal”, “Coelho Menino da Páscoa”, “A Paixão de Cristo, o Messias da Paz”, com a qual fomos pioneiros do RS, e “Luzes do Deus Menino”, apresentado em diversos municípios gaúchos.
Como surgiu a ideia do Teatro Social e quais os objetivos?
Tio Tony – Houve um período em que se discutia e se fazia a crítica teatral e livros sobre teatro eram publicados. Eu sempre defendi que todo tipo de arte tem uma responsabilidade social muito grande, porque é um multiplicador e amplificador das ideias. Por exemplo, quando se houve uma música e ela é de má qualidade, com péssima responsabilidade social e de conteúdo – como muitas músicas da atualidade – isso é um desserviço à sociedade. Nós entendemos que o teatro deveria ser social, no sentido de possibilitar acesso a todas as pessoas, não apenas a algumas camadas. Com isso, pensamos em pegar assuntos cotidianos e levar ao palco, prestando um serviço, para que o ser humano possa ter uma melhor qualidade de vida, através de relações corretas e socialmente mais justas. Por isso criamos o Teatro Social, em 1988, em Montenegro. Não somos os pioneiros da metodologia, mas, sim, da projeção, enquanto companhia. Hoje existe em diversas partes do Brasil.
Para teus espetáculos, buscas recursos das leis de incentivo?
Tio Tony – Fomos os primeiros produtores culturais do RS. Participamos da Conferência Nacional de Cultura, em 1993, em Brasília (DF). Levamos propostas para discutir os mecanismos da Lei Rouanet, criada em 1991, por Paulo Sérgio Rouanet, ministro da Cultura do governo Collor. Aprovamos e desenvolvemos diversos projetos, de 2005 a 2008, por esta lei, em Teutônia. Sempre fui parceiro para o desenvolvimento de projetos em municípios, através de recursos estaduais ou federais.
Quanto um município precisa investir para ter exibição de alguma peça do Teatro Social?
Tio Tony – O investimento é de acordo com o a capacidade e com o formato da peça, se temos que levar todo o equipamento, ou se há parcerias com quem nos contrata. Normalmente, as secretarias de Educação vão contratar espetáculos que digam respeito ao tema, a Assistência Social e a Cultura também, então circulamos por todos esses eixos.
Qual a mensagem que deixas para o leitor?
Tio Tony – Que as pessoas fiquem atentas às fake news, que são um problema sério. A Lei Rouanet, por exemplo, não pode contemplar nenhuma produção audiovisual. Então, toda vez que falarem que “o filme tal ganhou dinheiro da Lei Rouanet”, é fake news. Os cantores não enriquecem com recursos da Lei Rouanet, eles recebem um cachê da produtora, que gera empregos para uma grande quantidade de profissionais que trabalham nos bastidores. É necessária também a contrapartida social e existem conselhos que investigam para saber se os recursos estão chegando onde devem chegar. Então, analisem tudo o que diz respeito ao tema. A cultura é responsável, hoje, por mais de 5% do PIB nacional, superando inclusive a indústria automobilística. Ela nos salvou durante a pandemia, gera conhecimento, autoestima, boas relações entre as pessoas e diminui o ranço político que contamina o mundo. Que possamos agir no social, pela cultura, para o bem-estar de todos.