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ILUSTRE CIDADÃO

“A principal conquista foi a inclusão dos direitos dos trabalhadores rurais em regime de economia familiar na Constituição Federal”

O quadro Ilustre Cidadão entrevista Alfonso Décio Schneider

27/02/2025 | 16:35 Atualização: 05/03/2025 | 14:21

Primeiro presidente eleito do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Teutônia, em 1984, Alfonso Décio Schneider tem 11 irmãos. Numa época em que estudar era obrigação somente até o 4º ano primário, aprendeu, desde cedo, a importância do trabalho no campo, até pela falta de alternativas fora da agricultura. Ao mesmo tempo, a indignação com a inexistência de amparo e de direitos aos trabalhadores do campo foi o combustível para seu envolvimento na luta sindical. 

Como foi a criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Teutônia?

Alfonso Décio Schneider – Em 1982, integrei o Conselho de Lideranças das cooperativas Languiru e Certel, representando a comunidade de Linha Frank. Essas indicações da comunidade fizeram com que eu percebesse que tinha capacidade de fazer mais. Logo após a instalação do município, em 1983, formamos o STR, com uma diretoria provisória, com o compromisso de promover as eleições dentro de um ano. Decidi formar uma chapa de oposição à diretoria provisória e fomos eleitos, numa eleição extremamente disputada, em julho de 1984. Fui reeleito em 1987 e 1990, sempre com percentual de mais de 90%. Após 10 anos, pedi para não concorrer mais, porque não concordo com a perpetuação no poder. Entendo que, à medida em que ocorre alternância, as coisas ruins aparecem e podem ser corrigidas.

Quais foram as principais conquistas obtidas naquela época?

SchneiderCriamos um programa de rádio, tivemos espaço na imprensa e iniciamos a conscientizar os agricultores em reuniões de base. Conseguimos trazer a participação da mulher, que, até então, não tinha direito a nada. A Fetag-RS me incluiu na coordenação da Comissão Estadual do Leite e negociávamos com as empresas o preço do litro: o agricultor sempre sabia quanto iria ganhar pela produção. Mas, com certeza, a principal conquista foi a inclusão dos direitos dos trabalhadores rurais em regime de economia familiar na Constituição Federal. No pré-trabalho para a Carta Magna, em 1988, trouxemos políticos para reuniões com mais de 1000 pessoas, onde demonstramos nossas propostas. Participamos de mais de 10 reuniões com os ministros e sempre éramos chamados para mostrar a importância de o agricultor ter direito à aposentadoria, ao benefício por acidente de trabalho e do próprio direito da mulher rural, que, na época, não tinha nenhum reconhecimento. Em 5 de outubro de 1988, a promulgação da nova Constituição e a inclusão desses direitos foi a conquista do século, a grande transformação para o homem do campo. Em 1991, passaram a ocorrer os primeiros pagamentos de aposentadorias para homens aos 60 anos e para as mulheres aos 55 anos. 

O senhor foi eleito vereador em Teutônia e teve participação na emancipação de Westfália?

Schneider – Uma vez fora do STR, aceitei concorrer a vereador e fui o quarto mais votado, atuando de 1997 a 2000, sempre representando os pleitos dos pequenos produtores rurais. Fomos convidados a integrar a comissão emancipacionista de Westfália pelas lideranças, porém, como a minha esposa, Dulce Berta Schneider, era a presidente do STR na época, decidimos ficar neutros. Fizemos mais o papel de esclarecimento, informando que os agricultores não teriam nada a perder com a criação do novo município. Ter contribuído nisso também nos orgulha. O município foi criado e os resultados estão aí.

Qual mensagem o senhor deixa?

Schneider – Tenho uma família maravilhosa, com dois filhos e três netos. Na vida pública, sinto muito orgulho daquilo que contribuímos, especialmente para o bem da classe rural. Eu e minha esposa tivemos uma passagem como rei e rainha da terceira idade de Westfália, mas a pandemia impediu que conseguíssemos colocar muitas de nossas ideias em prática. Mesmo com todas as conquistas, não me sinto à vontade de dizer a um jovem que siga a profissão de pequeno agricultor em regime de economia familiar, porque este modelo está desaparecendo, em todas as localidades. Hoje, temos grandes produtores, mas não mais aqueles que trabalham com agricultura de subsistência, que produzem para o próprio consumo. Essa pequena propriedade, em sua verdadeira essência, está desaparecendo, infelizmente.

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