10 de abril de 2025
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TRADIÇÃO E EXPANSÃO

Apicultores aguardam certificação para acessar mercado nacional

Associação está prestes a obter autorização para a venda em todo o território brasileiro. Conquista representará marco ao trabalho da entidade, iniciado há 35 anos, na organização do setor na microrregião e estruturação de entreposto para beneficiamento do mel. Mudanças climáticas, redução do número de abelhas e formação de novos produtores estão entre os desafios

14/01/2025 | 11:37 Atualização: 05/03/2025 | 14:12
Manejo de abelhas exige conhecimento, técnica apurada e equipamentos de proteção  (Foto: Alexandre Miorim)
Manejo de abelhas exige conhecimento, técnica apurada e equipamentos de proteção (Foto: Alexandre Miorim)

Habilitar o mel produzido pela Associação Teutoniense de Apicultores para ser vendido em mercados de todo o Brasil. Com esse propósito, a instituição que representa um dos segmentos mais tradicionais da agricultura familiar local aguarda a publicação no Diário Oficial da União referente à obtenção do Selo Arte, que possibilita o comércio nacional de produtos alimentícios elaborados de forma artesanal.

Emitido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Selo Arte consiste em um certificado de identidade e qualidade do produto de origem animal, produzido dentro de um padrão de boas práticas agropecuárias e de fabricação. Para a associação, que hoje comercializa o mel dentro do Rio Grande do Sul, simboliza a expansão significativa de seu mercado.

O processo para a certificação é realizado junto ao Serviço de Inspeção Municipal (SIM). A associação será a segunda agroindústria de Teutônia a contar com o Selo Arte. Em julho deste ano, a Queijaria Dorf, situada na Linha São Jacó, foi a primeira a conquistar o reconhecimento. Conforme o responsável técnico pela associação de apicultores, Adilson Cord, a expectativa é que o selo seja emitido pelo Mapa ainda este ano.

Se hoje é possível vislumbrar este avanço, muito se deve ao trabalho iniciado há 35 anos, quando surgiu a Associação Teutoniense de Apicultores (ATA). A obtenção do selo representará um marco importante na trajetória da entidade, fundada em 14 de janeiro de 1988.

Os objetivos iniciais da entidade eram promover o desenvolvimento da apicultura na região, estimular o consumo do mel e auxiliar associados, principalmente no atendimento às exigências sanitárias para a comercialização em mercados, padarias e outros estabelecimentos. “No início, almejávamos os pontos de venda no estado. Mas agora, com o Selo Arte, conseguiremos atingir todos os pontos do país”, compara Cord, que foi o primeiro presidente da organização.

Ex-presidente Adilson Cord (à esquerda) e o atual, Agenor Rührwiem, em frente ao entreposto (Foto: Alexandre Miorim)

Origens e entreposto

O trabalho da associação iniciou em uma sala cedida na prefeitura. Cerca de dois anos depois, migrou para um espaço na sede do Sínodo Vale do Taquari da IECLB, também no Centro Administrativo.

Em 2002, foi registrado o primeiro rótulo, através do Serviço de Inspeção Municipal, em um prédio cedido por um associado (Armin Eloi Aschebrock), no Bairro Canabarro. O estabelecimento atendia apenas os apicultores de Teutônia e possibilitava a comercialização dentro do próprio município. A necessidade de expandir o mercado ficava cada vez maior.

Marco importante para a associação foi a construção do Entreposto Auro Kich, localizado no Bairro Teutônia. A estrutura onde hoje é feito o beneficiamento do produto foi viabilizada com recursos de emenda parlamentar, do deputado federal Elvino Bohn Gass (PT-RS), mais contrapartida municipal. A confirmação da emenda ocorreu em 2007, mas a unidade foi inaugurada somente em 2015.

O nome homenageia o ex-presidente Auro Kich, que liderou a entidade em oito ocasiões e foi o articulador para a captação da verba. Ele também é lembrado como um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da apicultura na região, considerado o “motor” da associação por muitos anos. “Ele foi o grande lutador para a construção do entreposto. Foi a Brasília, no Congresso Nacional. Largava tudo pelas abelhas. Respirava a associação”, ressalta Cord. Kich faleceu em 2014, antes da inauguração oficial do entreposto.

O espaço se tornou a sede da entidade, com áreas específicas para etapas do beneficiamento do mel produzido pelos associados. No entreposto, ocorrem a descristalização; a filtragem; o envase em potes para comercialização, em tamanhos de 1kg, 750g, 500g, 250g e balde de 25kg (para uso industrial); rotulagem; e expedição.

Em 2019, o entreposto foi habilitado com o selo do Susaf (Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte), o que viabilizou a venda dos produtos em todo o RS. O atual presidente, Agenor Rührwiem, destaca a importância dessa conquista, visto que muitos produtores de mel associados são de outros municípios.

Responsável técnico da associação, Cord acredita na expansão de vendas a partir da obtenção do Selo Arte (Foto: Alexandre Miorim)

Novos planos

Atualmente, há associados de Teutônia, Poço das Antas, Paverama, Fazenda Vilanova, Westfália, Estrela, Marques de Souza e Santa Clara do Sul. São cerca de 30 integrantes.

Além do Selo Arte, a associação ainda aguarda liberação de recursos provenientes de outra emenda parlamentar, também de autoria de Bohn Gass, para a compra de novos equipamentos, orçados em R$ 70 mil. São dois novos decantadores, uma envasadora automática, bomba de transporte de mel e uma estufa de descristalização. Conforme Rürwiem, o aparato vai gerar mais agilidade e produtividade ao entreposto.

Na esteira de projetos da associação, está o plano de construir um apiário didático de abelhas sem ferrão (meliponicultura) junto ao entreposto. A ideia é receber estudantes de escolas para conhecer o processo de perto, incentivar a conscientização ambiental e estimular que as novas gerações se interessem pela prática. “Temos que pensar no futuro. Como em toda atividade agrícola, precisamos associar os mais novos”, resume Cord.

Renovação

O mais recente apicultor associado é também o mais jovem membro da entidade. Arlei Schüssler, 25 anos, é fascinado por abelhas desde criança. Começou a experimentar a lida, primeiramente, com as abelhas sem ferrão. Foi por influência de Agenor Rührwiem, que resolveu ingressar no mundo da apicultura. Com 19 anos, começou a pesquisar técnicas e realizar cursos.

Pela internet, conheceu profissionais que são referências na área em nível nacional. Fez uma formação em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, no Apiário Serra da Bodoquena. Na volta, começou a botar em prática seus conhecimentos e, em 2020, foi convidado a trabalhar em uma propriedade de apicultura profissional, em Pantano Grande. Lá morou por mais de dois anos. “Foi uma verdadeira imersão”.

Junto com a namorada, Kathleen Borges, Schüssler se dedica com afinco à apicultura migratória, mantendo apiários em localidades diversas dos Vales do Taquari e do Rio Pardo. Com o Selo Arte que será obtido pela associação, tem expectativas de impulsionar as vendas para outros estados, por meio da internet. Seu projeto de vida é construir uma agroindústria de mel. “Coloquei na cabeça que era isso que eu queria”, declara.

Aos 25 anos, Arlei Schüssler integra nova geração de apicultores na microrregião de Teutônia (Foto: Alexandre Miorim)

Desafios ambientais

No manejo de abelhas há 45 anos, Adilson Cord compara a apicultura dos primórdios da associação com o tempo atual. As mudanças climáticas são a principal alteração, com impacto direto sobre a atividade. “Naquela época, a nossa safra principal era na primavera, de outubro até final de novembro. Depois, havia a safrinha, no mês de maio. Hoje, inverteu totalmente. Temos que rezar para conseguir alguns quilos na primavera”, explica.

Tantos os períodos de calor excessivo, como os de chuvas torrenciais, desequilibram o ecossistema e comprometem a produção. Além disso, o uso de inseticidas e agrotóxicos nas lavouras, bem como a adoção de novos métodos que aceleram o ciclo de cultivo e reduzem o pasto apícola, também geram consequências na atividade.

Outro fator bastante notável é a redução significativa da população de abelhas. “Reduziu muito a enxameação. E o que a gente também está percebendo é uma redução das safras”, analisa Cord. Acerca da importância das abelhas para o meio ambiente, ele destaca o seu papel na polinização.

“Todo apicultor é, automaticamente, um preservacionista. Ele conhece a florada de todas as plantas principais. É uma pessoa preocupada em replantar, em reflorestar. Inclusive, nós da associação já fizemos vários movimentos de plantio, de distribuição de mudas, de compra de mudas de espécies melíferas diferentes, que não tinham aqui, ou para difundi-las”, comenta o especialista.

A obtenção do Selo Arte marcará uma nova fase para a Associação Teutoniense de Apicultores. Além de fortalecer a entidade, abre possibilidades de novos mercados e estimula a participação de mais associados. Com a continuidade do trabalho em prol da preservação ambiental e formação de novos apicultores, o futuro do setor na microrregião pode ganhar boas perspectivas.

Entenda

  • A Associação Teutoniense de Apicultores aguarda a obtenção do Selo Arte, que permitirá a venda do mel beneficiado em seu entreposto para todo o Brasil.
  • Fundada há 35 anos, a associação organiza e desenvolve a apicultura local, facilitando o acesso ao mercado para pequenos produtores e atendimento a normas sanitárias.
  • Com o entreposto Auro Kich, a associação viabiliza o beneficiamento do produto de apicultores associados.
  • Entre os desafios, estão o impacto das mudanças climáticas e a formação de novos apicultores.
  • Planos incluem aquisição de novos equipamentos e criação de um apiário didático para incentivar o interesse das novas gerações.

Trajetória da ATA

  • 1988: Fundação da Associação Teutoniense de Apicultores em 14 de janeiro
  • 2002: Registro do primeiro rótulo de mel através do Serviço de Inspeção Municipal (SIM), permitindo a comercialização dentro de Teutônia.
  • 2007: Destinação de emenda parlamentar para a construção do Entreposto Auro Kich, espaço dedicado ao beneficiamento do mel.
  • 2014: Falecimento de Auro Kich, ex-presidente e principal articulador da construção do entreposto, que leva seu nome como homenagem.
  • 2015: Inauguração oficial do Entreposto Auro Kich, que passa a ser a sede da associação e estrutura o processamento e beneficiamento do mel.
  • 2019: Obtenção do selo SUSAF, autorizando a venda em todo o RS.
  • 2024: Expectativa de obtenção do Selo Arte, que permitirá a venda do mel em todo o território nacional.

 

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