O mês de janeiro traz consigo preocupações em relação ao avanço dos casos de dengue na região. Devido às altas temperaturas, o período de maior risco de proliferação da doença costuma iniciar em outubro e perdurar até o mês de maio. Em Teutônia, o recorde de casos atingido no ano passado reforça a necessidade de atenção do poder público e comunidade para os próximos meses.
Em 2024, houve 467 casos no município, representando um acréscimo de mais de 700% no número de casos registrados no ano anterior (55). Vale ressaltar a ocorrência do primeiro óbito causado pela doença em Teutônia, confirmado em abril: um homem de 66 anos, com doenças pré-existentes. Os números seguiram a tendência estadual, de aumento expressivo das contaminações e mortes.
Passada a epidemia, o município está próximo de completar cinco meses sem casos de dengue confirmados. O último caso registrado corresponde à primeira quinzena do mês de agosto. No entanto, o alerta permanece. Conforme a Vigilância Sanitária, as ações de monitoramento constataram a presença de larvas de Aedes aegypti em todos os bairros da cidade.
A previsão de chuvas esparsas para este verão, bem como a permanência de entulhos decorrentes das enchentes do ano passado, são fatores que geram preocupação e podem elevar os riscos de propagação do vírus.

Fotos: Sara Ávila
Monitoramento e combate
Coordenador da Vigilância Sanitária no município, Evandro Borba, afirma que a Vigilância Ambiental em Saúde, junto à Secretaria Municipal de Saúde, já planeja ações para conter o avanço da doença neste ano e, se necessário, fará intervenções com inseticidas e mutirões em cooperação com a comunidade.
Segundo ele, combater o mosquito transmissor da dengue requer o trabalho intenso dos agentes de combate à endemias. A fim de tornar suas ações mais assertivas, a equipe conta, desde agosto, com o sistema de ovitrampas, que possibilita que a equipe monitore com maior eficiência as regiões em que existem focos do Aedes aegypti e demandam maior atenção.
Trata-se de armadilhas projetadas para coletar ovos do mosquito, que utiliza levedo de cerveja como atrativo para a fêmea da espécie. Conforme Borba, os resultados puderam ser vistos já no segundo mês de utilização do sistema.
Nesta semana, uma reunião entre a nova gestão da Secretaria Municipal da Saúde e servidores alinhou estratégias para reforçar as ações de controle e prevenção. De acordo com a secretária Marlene Metz, o cenário atual da dengue no município está controlado, devido ao “trabalho incansável” realizado pela Vigilância Sanitária e à conscientização da comunidade.
“Nós, da administração municipal, estamos empenhados em propor políticas públicas e ações de combate e prevenção, não só da dengue, mas de todas as questões sanitárias do município de Teutônia, sempre seguindo as orientações técnicas dos profissionais”, ressalta a secretária..
Cenário estadual
Em nível de Rio Grande do Sul, o cenário epidemiológico de 2024 superou a alta de anos anteriores e colocou o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) em alerta para os meses de janeiro, fevereiro e março, quando historicamente ocorre o pico de ocorrências.
Em 2024, foram mais de 200 mil casos confirmados no Estado, sendo cerca de 172 mil autóctones (quando a contaminação ocorre dentro do RS), além de 281 mortes em decorrência da doença. Na comparação, 2023 teve 73 mil casos confirmados (34 mil deles autóctones) e 54 óbitos. Em 2022, foram 98 mil casos confirmados (58 mil autóctones) e 66 óbitos.
A incidência da dengue no ano passado, no RS, foi de 1.852 casos por 100 mil habitantes, sendo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera como alta incidência valores acima de 300.
Para manter o monitoramento, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) mantém ativo um repositório virtual, com diversos painéis, notas técnicas, comunicados de risco e informações sobre arboviroses, com recorte sobre a dengue e o vetor de transmissão, o mosquito Aedes aegypti. A plataforma pode ser acessada em www.saude.rs.gov.br.
Vacina ainda não disponível
A vacina contra o vírus da dengue está em uso no sistema público de saúde, desde 2024, no Brasil. Contudo, a distribuição ocorreu, prioritariamente, nas regiões com maior incidência e transmissão da doença. Teutônia – apesar do agravamento do cenário no ano passado – não cumpre todos os critérios para receber o imunizante.
Evandro Borba orienta a população a não depositar expectativas para solucionar o problema causado pela dengue na vacina.
“A prevenção, através da eliminação de criadouros, ainda é a melhor solução”, ressalta.
Sintomas e prevenção
Para reduzir as chances de agravamento da doença, é fundamental que a população procure atendimento médico já diante dos primeiros sintomas, que são dor abdominal, dor ocular, dores de cabeça e dores musculares intensas, manchas vermelhas na pele e febre alta.
Para evitar a contaminação pela dengue, é indicada a utilização diária de repelente. Além disso, os cuidados para eliminar quaisquer elementos que possam acumular água parada devem ser contínuos. Pequenos objetos como garrafas pet, latas e outros resíduos que acumulem água da chuva podem se tornar focos de larvas do Aedes aegypti.
NÚMEROS DO RS
Em 2024, foram mais de 200 mil casos confirmados no Estado, sendo cerca de 172 mil autóctones (quando a contaminação ocorre dentro do RS), além de 281 mortes em decorrência da doença. Na comparação, 2023 teve 73 mil casos confirmados (34 mil deles autóctones) e 54 óbitos. Em 2022, foram 98 mil casos confirmados (58 mil autóctones) e 66 óbitos.
Como funcionam as ovitrampas?
- A Vigilância Ambiental em Saúde instala, uma vez por mês, as ovitrampas em pontos estratégicos do município, e utiliza levedo de cerveja como atrativo para a fêmea do Aedes aegypti.
- A fêmea do Aedes aegypti é atraída pela armadilha, que contém água e uma paleta de madeira ideal para que ela deposite seus ovos.
- Após uma semana, a equipe recolhe a paleta que compõe a armadilha para verificar a existência de ovos do mosquito Aedes aegypti e, caso haja, reforçar as ações de combate nas proximidades do local.
“O controle do vetor exige um esforço coletivo”
Luciano Nunes Duro é médico de Família e Comunidade, doutor e mestre em Epidemiologia, Professor e coordenador do curso de medicina da Univates. Para ele, o enfrentamento à dengue requer mobilização conjunta entre sociedade e autoridades.
Quais são as expectativas sobre a dengue neste verão?
Luciano Nunes Duro – As expectativas dependem de vários fatores, como a circulação dos sorotipos virais e o clima. O aumento de chuvas esparsas e temperaturas elevadas no verão favorece a proliferação do mosquito e, consequentemente, o aumento dos casos. Além disso, surtos podem ser mais graves em áreas com menor imunidade populacional ao sorotipo predominante. Segundo o Ministério da Saúde, a dengue tem apresentado ciclos epidêmicos a cada 3 a 5 anos, o que pode indicar maior risco de surtos neste período, mas não há previsão para 2025 de mais casos do que 2024. Os modelos estatísticos preveem que estados do Sudeste terão incidências maiores em 2025. Essa previsão não mostra o RS como provável aumento acima do esperado.
Quais medidas são necessárias para conter o avanço da doença?
Luciano – Educação da população, treinamento das equipes de saúde, investimento em equipamento diagnóstico (testes rápidos, principalmente), acesso facilitado a consultas com enfermagem ou médicos são a “linha de frente” para o combate. As estratégias mais eficazes envolvem mobilização comunitária, com campanhas educativas sobre identificação e eliminação de focos domiciliares; fortalecimento da vigilância epidemiológica, com monitoramento ativo de casos suspeitos e resposta rápida a surtos; uso de tecnologias, como armadilhas ovitrampas ou o uso de organismos naturais ou moléculas específicas para reduzir populações do Aedes, como o uso de mosquitos com a bactéria Wolbachia para reduzir a capacidade de transmissão do vírus; e políticas de saneamento básico, com investimentos na coleta regular de resíduos sólidos e na drenagem urbana são essenciais para eliminar condições propícias à reprodução do vetor.
Como podemos enfrentar a dengue de forma eficaz e coletiva?
Luciano – É importante reforçar que a dengue não é apenas um problema individual, mas uma questão de saúde pública. O controle do vetor exige um esforço coletivo. Além disso, a integração de políticas públicas com a participação da comunidade é essencial para reduzir a carga da doença. Tecnologias emergentes, como drones para inspeção de áreas de difícil acesso, também têm mostrado potencial. Finalmente, é fundamental garantir recursos para a pesquisa científica que subsidie novas estratégias de controle e prevenção.