A lista das empresas que mais contribuem para o retorno do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) ao município oferece um panorama da dinâmica econômica local. Dados da administração municipal apontam as projeções de arrecadação para 2025, calculadas com base no Valor Adicionado Fiscal (VAF) de 2023, e destacam os 30 empreendimentos com maior participação (veja a tabela abaixo da reportagem).
O VAF é um indicador econômico que determina o índice de participação de cada município na distribuição da arrecadação do ICMS. Ele reflete o valor adicionado pelas empresas sediadas no município, mas não abrange toda a atividade econômica local. Setores como bancos, serviços de saúde e educação, por exemplo, possuem regimes tributários distintos e não entram nessa contabilização.
A partir da relação, é possível reconhecer a predominância de empresas que têm base ou relação direta com o setor primário, o que reafirma a vocação local para a produção agropecuária. Entre 30, pelo menos dez têm ligação direta com o segmento, seja na industrialização de alimentos, produção de suprimentos ao campo ou prestação de serviços a propriedades rurais.
Exemplo disso está na liderança do levantamento. A Lactalis do Brasil segue no topo do ranking, com previsão de retorno de R$ 4.976.327, o que representa quase um quarto da arrecadação municipal com o ICMS. Desde que o Prêmio Destaques foi instituído pela prefeitura para reconhecer as empresas com maior participação na economia, a unidade de Teutônia da gigante dos lácteos permanece em primeiro.
A fábrica no município existe desde 1982. Pertenceu à Cooperativa Central Gaúcha de Leite (CCGL), depois à Elegê, que na época pertencia à BRF. Em 2014, a Lactalis adquiriu da BRF as marcas de lácteos Batavo e Elegê, se estabelecendo em Teutônia e outros nove municípios gaúchos.
Atualmente, a Lactalis do Brasil lidera a captação de leite no país, somando 2,5 bilhões de litros por ano. A unidade em Teutônia conta com cerca de 500 funcionários e produz mais de 700 mil litros de leite por dia. Além de leite UHT, linha tetrapak e de garrafa, a unidade fabrica ainda diversos derivados, como leite em pó, leite condensado, achocolatado, manteigas, molhos, wheyfit e outros.
Força calçadista
O ramo calçadista também ganha destaque. Setor histórico, que há décadas impulsiona o desenvolvimento do Bairro Canabarro, tem na Calçados Beira Rio a principal representante. A empresa deve gerar retorno de R$ 4.452.418 ao cofre municipal, o que equivale a 22,29% da arrecadação em ICMS de Teutônia.
Calçados Beira Rio conta com mais de mil funcionários e tem previsão de retorno de R$ 4,45 milhões | DIVULGAÇÃO
Nas últimas quatro edições do Prêmio Destaques, a Calçados Beira Rio foi reconhecida como a maior empregadora do município. Atualmente, são 1.020 colaboradores diretos, sem contar com os mais de 40 ateliers distribuídos pela microrregião que participam do processo de fabricação.
Com matriz em Novo Hamburgo, a gigante calçadista tem filiais produtivas em outros nove municípios. A unidade teutoniense corresponde a 11% do faturamento da empresa e se dedica à produção de calçados infantojuvenis para meninas e da primeira infância à pré-adolescência, nos segmentos bebê, kids e tweens, da marca Molekinha.
Do mesmo ramo, a A. Grings – Calçados Piccadilly segue em quarto lugar no ranking de ICMS, com retorno previsto em R$ 1.311.804 (5,56%). Na última edição do Prêmio Destaques, foi a segunda maior empregadora.
Cooperativismo
As cooperativas também aparecem com força na lista. A Certel aparece em quinto, com a Distribuidora de Energia, e em 10º lugar, com a Artefatos de Cimento. A Cooperativa de Manutenção e Transporte (Comatra) está em 11º; e a Cooperativa Agroindustrial São Jacó (Cooperagri), em 19º. Destaque para a Cooperativa dos Suinocultores dos Vales (Coosuval), criada em 2023, e já presente na 30ª posição do ranking.
O terceiro lugar é ocupado pela Cooperativa Languiru. A organização, que já foi símbolo do desenvolvimento regional e uma das maiores cooperativas do estado, vive um processo de liquidação extrajudicial, devido à forte crise financeira em que se encontra. Ainda assim, como os dados têm como base 2023, as consequências em termos de ICMS ainda não são plenamente absorvidas. A previsão de retorno é de R$ 1.495.235 (7,48%).
Mão de obra
e inovação
A economia de Teutônia mantém-se diversificada e em crescimento, com forte presença dos setores industrial, primário, comercial e de serviços. Segundo o secretário de Indústria, Comércio e Turismo, Valdir Griebeler, o município não tem registrado perdas significativas no retorno de ICMS. Pelo contrário, a tendência é de incremento substancial nos próximos anos.
A administração municipal trabalha para manter as empresas e atrair novos investimentos. Muitas indústrias estão em fase de instalação e devem reforçar a arrecadação e a geração de empregos. O cenário pós-enchente transformou Teutônia em destino de diversos empreendimentos que estavam em áreas mais vulneráveis aos eventos climáticos.
De acordo com Griebeler, apesar do processo de liquidação da Languiru, que pode alterar o ranking das maiores empresas do município nos próximos anos, a economia local segue sólida. Outras empresas estão absorvendo essa demanda, tanto na arrecadação quanto na geração de empregos.
Um dos desafios enfrentados, no entanto, é a busca por mão de obra qualificada, o que tem motivado a implementação de cursos de capacitação e ações da Assistência Social para incentivar a reinserção de trabalhadores no mercado.
Além da manutenção e fortalecimento das atividades econômicas tradicionais, há um esforço para expandir a atuação no setor de inovação. Conforme o secretário, parcerias com instituições como a Univates estão em estudo para incentivar startups e consolidar Teutônia como um polo regional de referência.
