O dia era 13 de novembro de 1955 e o local era a propriedade de Germano Ernesto Horst, no então Distrito de Languiru. Nessa data, um grupo de 174 produtores criou a Cooperativa Agrícola Mista LTDA. Como primeiro presidente, o anfitrião desse grupo. Os pioneiros abriram caminho para uma trajetória marcada por grandes investimentos e diversificação dos negócios. E crises de distintas proporções, que colocaram à prova a capacidade de superação e exigiram adaptações. Cenário, este, inserido na chegada aos 70 anos.
Presidente liquidante desde 2023, Paulo Roberto Birck sublinha que a Languiru “sempre soube vencer” as dificuldades, por vezes simbolizado pelo fôlego de uma nova gestão. Nesse sentido, destaca que foi necessário enxugar a estrutura, renegociar dívidas, concentrar as operações em quatro pilares (Agrocenter, Laticínios, Frigorífico de Aves e Fábrica de Rações) e buscar apoios. “Não precisamos abraçar tudo, mas de parceiros que nos ajudem a enfrentar este momento. Assim, todos ganham. Felizmente, temos obtido êxito nesta missão”, avalia Birck.
Nova sede
Símbolo da pujança que marcou a cooperativa nos anos 2010, o edifício de quatro andares no Bairro Languiru, então sede administrativa, foi um dos objetos das negociações e agora será entregue ao Sicredi Ouro Branco. Desde o início do processo de liquidação, apenas 30% da estrutura estava ocupada. A desocupação deve ser concluída nesta semana. O movimento faz parte da estratégia de redução de custos.
Em paralelo, as atividades serão transferidas para a parte inferior do Agrocenter, do outro lado da Rua 3 de Outubro, que foi reformada. Antes, o espaço era ocupado pela parte de insumos, agora incorporada à loja principal. A inauguração vai ocorrer nesta quinta-feira. Conforme Birck a nova sede “reflete o legado de simplicidade da atual gestão”, uma vez que, ao invés de separação por pavimentos, todos os setores dividirão o mesmo espaço e as salas de reuniões serão separadas apenas por vidros. O auditório
“Além da transparência, esse modelo visa reforçar a proximidade com os associados, para que eles se sintam acolhidos, em casa, parte da cooperativa como, de fato, são”, explica o presidente liquidante. Na fachada, uma arte traz elementos que remetem às origens da Languiru e propõe uma reflexão sobre a representatividade da Languiru na história de cada indivíduo.
Números melhores e futuro melhor
Dentro do contexto de recuperação, a atual gestão celebra o avanço nos números ao longo de 2025. Em outubro, o faturamento chegou a R$9 milhões e a projeção é alcançar a casa dos R$50 milhões. Diariamente, o abate de aves chega a 42 mil, com perspectiva de atingir os 55 mil no próximo ano. Segundo Birck, isso indica o retorno gradual dos associados, à medida que há mais compreensão sobre os movimentos iniciados em 2023. Desta forma, agrega-se valor. Em relação aos 1,2 mil funcionários, todos recebem em dia. Novos produtos estão em desenvolvimento e, ao menos em médio prazo, não há previsão de ampliações estruturais. A palavra-chave em todo o processo é o tempo.
No que tange aos próximos 5 a 10 anos, a perspectiva é de uma Languiru 30% menor na comparação com o pré-crise. Por outro lado, mensalmente o valor atinge os R$80 milhões e, do ponto de vista anual, R$1 bilhão. Um dos fatores que deverá contribuir para esses números é o alcance de 11 milhões de litros mensais. Hoje, com variações, gira em torno de 9 milhões.
Outra meta inclui sair da liquidação extrajudicial em 2026, mediante a garantia de segurança jurídica. Nesse caso, abre-se caminho para firmar novos negócios. Ainda, até 2035, estar com as contas em dia. “Trabalhamos com uma futura cooperativa enxuta, mas saudável. A comunidade pode nos ajudar com a compra dos nossos produtos e a confiança na Languiru”, finaliza.
Relação antiga
Supervisora administrativa há 37 anos, Janete Dahmer está entre as mais antigas colaboradoras. Seu pai e avô eram produtores de leite no interior de Westfália e associados, o que aproximou-a da organização. A Languiru foi seu único emprego, sempre voltado ao atendimento aos associados.
Formada pelo Colégio Teutônia, a funcionária lembra que, nos anos 1980, a direção investiu na contratação de familiares dos associados. Além dos pais e avô, Janete era sobrinha-neta de Arnildo Dahmer, presidente entre 1959 e 1971. Fez história ao ser a primeira mulher a trabalhar no seu setor. Superou a estranheza e desconfiança geradas por essa novidade.
Sobre a função, enfatiza a relação de cumplicidade, empatia, diálogo e respeito construída com o público. É estratégica, pois se trata do elo entre os associados e a direção. Sobre as crises, relembra, além da atual, a reestruturação ocorrida nos primeiros anos do milênio. A principal diferença entre ambas foi, justamente, o alcance. Sem as redes sociais, não houve tamanha repercussão. Os efeitos ficaram restritos aos ambientes internos e familiares.

Acerca da crise, entende que a página mais uma vez será virada. “Tudo isso é para o bem da Languiru. Nossos associados que estão no céu torcem para dar certo. Aos deste plano, voltem a produzir, acreditem! Este CNPJ tem história. A Languiru é minha segunda família. Aprendo e ensino”, encerra.
Programação de aniversário
Após a solenidade de abertura da nova sede, a programação da cooperativa septuagenária seguirá na Associação dos Funcionários com a presença dos 1,6 mil associados, autoridades e comunidade em geral. Conforme Birck, haverá a recepção com o Coral de Teutônia, exibição de um vídeo institucional, entrega de uma honraria pela Assembleia Legislativa, homenagem aos 70 associados mais antigos, almoço e sorteio da promoção “70 anos Languiru – R$70 mil em vales-compra”. Com a matrícula 413, Silvério Rührwei, é quem há mais tempo está ligado à cooperativa. Desde agosto de 1959. Ele tem 84 anos e se associou aos 18.
À tarde, haverá baile. Como forma de lembrar a data, será distribuída uma cerveja com rótulo alusivo ao aniversário. “Não comemoramos nos últimos três anos em função de todas as dificuldades. Não era o momento. Agora, com o apoio e confiança de diversos patrocinadores e um cenário mais positivo, conseguimos viabilizar esta festa”, conclui o presidente liquidante.
Dos 174 fundadores da cooperativa, apenas um está vivo. Trata-se de Adroaldo Pfingstag, que, em função da idade avançada, vive atualmente com os familiares na cidade de Novo Hamburgo.


