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ILUSTRE CIDADÃ

“Cumpri minha missão. No dia que eu partir, vou estar feliz porque fiz a minha parte”

O quadro Ilustre Cidadã entrevista Sidemia Tiggemann Michel

31/07/2025 | 10:28 Atualização: 01/08/2025 | 14:40
Sidemia Tiggemann Michel | Foto: Sara Ávila
Sidemia Tiggemann Michel | Foto: Sara Ávila

A professora aposentada Sidemia Tiggemann Michel tem uma longa história dedicada à educação. Casada com o comerciante Hércio Michel, mãe de Vivian e Évelin, durante 37 anos, de 1978 a 2015, foi professora na Escola Municipal de Ensino Fundamental Floriano Peixoto, em Linha Catarina. Concomitantemente, por 13 anos, de 1983 a 1996, lecionou na Escola Estadual de Ensino Médio em Poço das Antas. Aos 67 anos, segue ligada à comunidade de Linha Catarina e é uma das líderes da revitalização do antigo cemitério local.

Como foi o início das atividades como professora?

Sidemia Michel Comecei em 1º de março de 1978, como estagiária, auxiliando o professor Flávio Sanders, que era diretor na escola. Na mesma sala, atendia a 1ª e a 2ª séries. Logo depois, com a saída de Sanders, o professor Nestor Brönstrup assumiu e permaneci com as mesmas séries. Sempre atuei com alfabetização e tenho muito orgulho disso. Eu adorava alfabetizar. Às vezes, eu era meio durona, mas acho que foi bom, porque se olho para trás e vejo meus alunos, me sinto muito feliz.

Quantos alunos estudaram contigo ao longo desse tempo?

Sidemia Eu já pensei nisso, mas não sei o número. Quero passar na escola e fazer esse levantamento, já que as matrículas estão lá, registradas. Mas todos que estudaram lá, desde 1978, foram alfabetizados comigo.

E quando assumiste como professora única na Floriano Peixoto?

Sidemia A mudança foi ocorrendo aos poucos. Primeiro surgiu a merenda, que eram bolachas e leite. Vinha pronto e era só servir. Depois, outras comidas começaram a ser oferecidas no lanche e eu tinha que preparar em casa, como bolo, pizza, calça virada. A partir da municipalização da escola, em 1990, assumi as quatro turmas e uma sala da escola virou cozinha.

E como foi a experiência em Poço das Antas?

Sidemia Durante o primeiro ano, trabalhei como professora no Jardim de Infância da escola estadual. Era à tarde, eu ia de ônibus e a sala era na parte superior da escola. Para isso, fiz um curso no período da manhã, em Montenegro. Depois, trabalhei sempre no 1º ano nessa escola.

Qual tua sensação por ter atuado tantos anos na alfabetização?

Sidemia Educação é tudo. Sem ela, não temos nada. Eu sempre frisava muito que o ensino e a educação tinham que caminhar juntos. Para ser uma pessoa boa, a gente precisa prestar atenção nos ensinamentos dos pais, respeitar as pessoas, dar bom dia, auxiliar os idosos. Essas coisas aconteciam automaticamente no cotidiano com os alunos. Eu era muito “mãe” desses alunos. E a mãe às vezes é rigorosa também. Em termos de alfabetizar, eu era muito certinha, exigente. Não entrava nessa linha de deixar escrever errado e aceitar tudo. Eu chamava o aluno e pedia para ele arrumar, era muito perfeccionista. Hoje, olho para trás e sinto muita alegria. Cumpri minha missão. No dia que eu partir, vou estar feliz porque fiz a minha parte. Encontro muitos alunos em lugares diferentes. Alguns nem conheço mais, mas eles se lembram de mim e vêm me cumprimentar e me abraçar. 

Como está o trabalho de revitalização do antigo cemitério de Linha Catarina?

Sidemia O local recebeu sepultamentos de 1889 a 1956. Meus avós estão enterrados lá. Eu sempre frequentava e levava flores. Mas, recentemente, uma parente minha de Goiás veio e comentou que o cemitério deveria ser revitalizado, em função do mau estado. O local pertencia à comunidade escolar, mas ficou abandonado a partir do surgimento do cemitério da Sociedade Salém (Pontes Filho e Linha Catarina) e, mais recentemente, com a venda da terra da comunidade escolar para construção do ginásio, o que fez com que ninguém mais cuidasse da área. Agora, com auxílio de outros líderes locais, estamos construindo uma rampa de acesso, refazendo os muros. Tenho a relação das 88 pessoas que foram enterradas lá e pretendemos fazer um memorial com todos os nomes. 

Qual a importância de estar envolvida neste trabalho comunitário?

Sidemia Nasci lá e convivi com meus pais sempre envolvidos nas diretorias, na comunidade, nos corais, na Oase. Isso cresceu dentro de mim e sigo ajudando. Para mim é muito bom, me sinto bem. E preservar o cemitério é manter a história, as raízes da Linha Catarina, que englobava, na época, também a comunidade de Linha Boa Vista Fundos.

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