Referência na luta contra a dependência química, Hilário Roque Warken, o “Gaúcho”, completou 71 anos em 10 de fevereiro e a comemoração não poderia ser diferente: na reunião dos Alcoólicos Anônimos de Languiru. Ele integra o grupo desde 1994, quando superou a doença, após passar por desintoxicação no Centro Regional de Tratamento de Recuperação do Alcoolismo – Central, em Lajeado. Desde então, “Gaúcho” começou a participar dos encontros semanais do grupo, realizados na Comunidade Católica, sempre nas segundas-feiras, às 19h30. Logo se tornou uma liderança para ajudar na recuperação de outros dependentes.
Como é a história dos grupos de AA no mundo?
Hilário Roque Warken – Iniciou em 1935. Em 1947, veio para o Brasil. Em 10 de outubro de 1970, iniciou em Porto Alegre. Já tive a oportunidade de conhecer este grupo, a partir do qual a sementinha foi se espalhando. O Grupo de Languiru foi criado em 17 de abril de 1986. Conheço 328 grupos de AA e quase todos os municípios do Rio Grande do Sul. Através do meu contato com pessoas e dos meus depoimentos em reuniões por todo o RS, acredito que já ajudei cerca de 20 mil pessoas a largarem o vício.
Desde quando estás em Teutônia e há quanto tempo estás sóbrio?
Warken – Sou natural de Três Passos e em 20 de novembro de 2024 fez 48 anos que moro aqui. Vim em 1976, quando ainda pertencia a Estrela. Iniciei o tratamento no dia 11 de agosto de 1994. Hoje são 30 anos e quase 200 dias de sobriedade. No dia 17 de abril, completarei 31 anos sem beber.
De que forma tomaste a decisão, em 1994, de mudar?
Warken – Eu queria me internar, experimentar a vida fora do copo.
Eu bebia de segunda a segunda, não tinha intervalo. Muitas vezes, pedi a Deus para que me ajudasse; mas de nada adiantava pedir a Deus se eu não fazia nada para mudar. Meus ex-chefes na antiga CCGL, Irineu Forneck e Lauro Feldkircher, diziam que eu era um bom profissional, mas que bebia e colocava tudo fora. Eu não gostava de ouvir aquilo. Quando fui pedir um aumento ao gerente, ele disse que poderia me pagar o dobro e que, mesmo assim, eu colocaria tudo fora. Eu realmente era uma pessoa doente. Graças a Deus e aos meus ex-chefes, que insistiram comigo e me levaram para a Central, pude ficar sóbrio e me reintegrar na sociedade.
Qual seu trabalho hoje?
Warken – Auxilio em todas as festas de comunidades onde sou chamado, tanto no preparo do churrasco, quanto como garçom. Ou seja, mesmo não ingerindo, trabalho com bebida alcoólica, este é o meu ganha pão. Também recolho materiais recicláveis para ajudar no orçamento mensal. Mas minha atuação mais forte é nos grupos de AA. Estou sempre à disposição para ajudar, quem tiver um familiar, um vizinho ou um amigo que quer se tratar, pode me procurar. Toda sexta-feira vou para a Central, participar da reunião. Isto fortalece, pois precisamos ouvir os depoimentos para saber como o álcool destrói a vida das pessoas e que há possibilidade de recuperar a dignidade, o respeito, a família e o convívio em sociedade.
Também organizo, anualmente, o Baile do Refrigerante, que ocorre na Comunidade Evangélica Redentor, no Bairro Canabarro. Neste ano, será em 22 de novembro, celebrando 39 anos de fundação do AA no município. Me sinto muito feliz por poder auxiliar o grupo de AA, que me ensinou a estender a mão ao próximo. Hoje eu tenho uma qualidade de vida boa e sou muito grato a Deus, pedindo sempre muita saúde e muitos anos de vida.
Uma mensagem para quem é dependente:
Warken – O vício leva a outras doenças, é uma dependência muito triste. Conheci muita gente que perdeu a vida por causa do álcool e das drogas. Não é fácil reconquistar tudo o que perdemos através do álcool. Mas, passo a passo, com muita fé em Deus, ajuda da família, força de vontade e com o apoio dos grupos de AA, é possível. Nossa missão é evitar o primeiro gole nas próximas 24 horas e é isso que estamos fazendo dia a dia.
