10 de abril de 2025
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ATRASO DO LA NIÑA

Depois das intempéries, otimismo no campo

Prognósticos iniciais de estiagem severa no RS não se confirmam, o que anima produtores. Meteorologistas projetam verão com chuvas irregulares, com reflexos menos danosos ao setor primário em relação a anos anteriores

28/11/2024 | 14:09 Atualização: 05/03/2025 | 14:12
Na propriedade de Osmar Jacobs, em Linha São Jacó, uma área de 12,5 hectares conta com irrigação (Foto: Alexandre Miorim)
Na propriedade de Osmar Jacobs, em Linha São Jacó, uma área de 12,5 hectares conta com irrigação (Foto: Alexandre Miorim)

Os temidos efeitos da seca no Rio Grande do Sul deram lugar a um cenário mais ameno para o setor primário. Diferente das perspectivas da metade do ano, quando se projetava, ao final do inverno, o início do La Niña – responsável pela redução das chuvas no sul do país –, as previsões mais recentes geram esperança de bons desempenhos no campo e safras produtivas.

De acordo com meteorologistas, a atual configuração climática indica um verão com precipitações irregulares, abaixo da média em algumas regiões, mas sem os impactos devastadores de anos anteriores. A explicação técnica é que o evento, considerado o principal causador das estiagens no estado, está “atrasado” e não terá força suficiente para devastar as lavouras.

O La Niña é um fenômeno oceânico e atmosférico caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do oceano Pacífico. Essa alteração afeta os padrões climáticos globais, provocando, no Brasil, chuvas acima da média no Norte e Nordeste e secas ou redução de precipitações no Sul. É o oposto do El Niño, que encerrou seu último ciclo em junho, marcado pela sequência trágica de chuvas torrenciais no RS.

Conforme a meteorologista Maria Angélica Gonçalves Cardoso, integrante do Núcleo de Informações Hidrometeorológicas da Univates, o atraso do fenômeno afasta o potencial de seca. “As previsões mostravam uma expectativa de início do La Niña após o inverno de 2024, mas não se concretizou, ou seja, o começo do La Niña está atrasado. É por conta dessa ‘demora’ que os efeitos deverão ser mais fracos e menos duradouros, muito diferente dos impactos que foram registrados nos últimos eventos, em 2020, 2021 e 2022”, explica.

Geralmente, o La Niña se forma no final do inverno e atinge seu pico durante o verão do hemisfério Sul. Dessa forma, os impactos são mais significativos. Segundo Maria Angélica, no caso do verão 2024/25, a chegada do fenômeno ainda é prevista e, caso se confirme, a tendência é de um episódio fraco, sem representar uma seca severa ou extrema no estado.

A tendência é que o impacto maior aconteça na Fronteira Oeste e na Campanha. Para o Vale do Taquari, a perspectiva é de chuva irregular ao longo dos meses que compõem o verão. O cenário deve persistir até meados de março e abril de 2025.

Safras promissoras

O engenheiro agrônomo da Emater-RS/Ascar de Teutônia, Michael Serpa, confirma as boas perspectivas para o setor primário. Segundo ele, muitas lavouras foram plantadas mais cedo, para escapar dos efeitos da estiagem que se desenhava. Contudo, a mudança no cenário traz otimismo aos produtores e prenúncio de bons rendimentos.

Conforme Serpa, a chamada “safra do cedo” está praticamente garantida com a incidência das precipitações projetadas para as próximas semanas. Isso vale, principalmente, para a primeira safra do milho. Mesmo que o La Niña se estabeleça, poderá haver algum comprometimento na safra da soja e na safrinha do milho, mas o impacto será menor.

“Se as chuvas se confirmarem, as boas safras vêm em um momento muito importante, pois passamos por um período de escassez, por uma sequência de anos bastante frustrante”, comenta.

“Sem irrigação, é como uma loteria”

Para que o produtor não fique tão vulnerável às condições climáticas e consiga garantir pelo menos parte de seus rendimentos, o recomendável é a implantação de sistemas de armazenamento de água e irrigação. O governo gaúcho, por exemplo, dispõe de programas de incentivo para facilitar os investimentos nas propriedades.

De acordo com Serpa, o interesse e a adesão dos agricultores locais têm aumentado nos últimos anos. Atualmente, em Teutônia, são cerca de 10 sistemas de irrigação já instalados.

Exemplo de sofisticação e tecnologia no campo é a propriedade da família Jacobs, em Linha São Jacó. Com um sistema de irrigação que abrange 12,5 de seus 40 hectares cultivados, a fazenda tem como atividade principal a pecuária de leite, demonstrando como a modernização pode transformar a produção agropecuária.

A estrutura de irrigação foi iniciada há sete anos e conta com 5,7 mil metros de tubulação enterrada, tendo como base um açude artificial. São sete setores de irrigação, contemplando áreas de milho, soja e jiggs, o que garante a produtividade, independentemente das condições climáticas.

“A irrigação é um avanço muito grande. Toda propriedade deveria ter. É um investimento que se paga”, comenta o produtor Osmar Jacobs. Para ele, a tecnologia é indispensável para garantir a produtividade e minimizar os riscos, pois “plantar sem sistema de irrigação é como uma loteria.”

Entenda

  • Previsões meteorológicas indicavam início do La Niña logo após o inverno de 2024, com impactos negativos para o RS, como estiagem severa.
  • Análises mais recentes constataram atraso no fenômeno, o que faz com que a sua intensidade e duração sejam menores.
  • Verão deve ter chuvas irregulares, mas sem os efeitos devastadores, a exemplo de 2020, 2021 e 2022.
  • Conjuntura climática anima produtores, que têm expectativas de boas safras e rendimentos no campo.

“As previsões mostravam uma expectativa de início do La Niña após o inverno de 2024, mas não se concretizou, ou seja, o começo do La Niña está atrasado. É por conta dessa ‘demora’ que os efeitos deverão ser mais fracos e menos duradouros” – Maria Angélica Gonçalves Cardoso – Meteorologista do NIH – Univates

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