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LEGADOS CULTURAIS

Fé, educação e lazer

Opinião de Rosita Jussara Schneider, coralista e corretora de seguros

03/07/2025 | 11:45

Ao refletirmos sobre a importância da vida comunitária, é impossível não lembrar de como, no passado, as instituições locais se articulavam para atender às diferentes dimensões da vida das pessoas. Um exemplo inspirador, e talvez pouco conhecido, é o da Comunidade Redentor de Canabarro e sua ligação com o Grêmio Recreativo Canabarrense — uma união que fortaleceu laços, promoveu pertencimento e marcou gerações.

Nos primeiros anos de 1900, foi construída a Igreja Evangélica da Comunidade Redentor, um dos marcos da presença luterana na região. Além do templo, a comunidade mantinha um jardim de infância e uma escola, demonstrando o valor dado à educação e à formação espiritual.

Em 1931, nascia o Grêmio Recreativo Canabarrense. Na época, Canabarro era um vilarejo pequeno, ainda pertencente ao município de Estrela. Por isso, todas as famílias ligadas à Comunidade Redentor tornavam-se também sócias do clube. Era uma convivência simbiótica: a igreja e a escola cuidavam da fé e da formação das crianças; o clube, por sua vez, era o espaço das celebrações, de esportes, do lazer e do convívio social.

As festas da Comunidade Redentor eram realizadas nos arredores da igreja e da escola. Já no Canabarrense, o futebol e os demais eventos. Os esperados bailes de debutantes, os animados Kerbs, o baile da primavera, shows e tantas outras festas que enchiam o salão de vida. E os calorosos jogos de futebol? Quanta dedicação e suor. Lembro com carinho desses momentos vividos no clube — tempos de música, encontros, torcida, simplicidade e muita alegria.

Por muito tempo, essa parceria funcionou de forma harmoniosa. No entanto, com o passar dos anos, a realidade foi mudando. O bairro cresceu, a cidade se expandiu, e as necessidades da população também se transformaram. Naturalmente, os objetivos das duas instituições começaram a se distanciar, sendo que a comunidade construiu o espaço para suas festividades e o Canabarrense tornou-se mais focado na área esportiva. Cada uma seguiu sua caminhada, adaptando-se aos novos tempos e desafios. Da mesma forma, tantos grupos sociais e artes distintas foram surgindo e hoje ocupam seus espaços dentro do bairro e também do município. 

Apesar dos rumos distintos, a história compartilhada entre a Comunidade Redentor e o Grêmio Recreativo Canabarrense permanece como um símbolo de como a vida comunitária pode ser rica, colaborativa e significativa. 

Trago este assunto, em parte por saudosismo, não desejando demonstrar que eram tempos perfeitos (e não eram), pois esse modelo de parceria talvez soe distante hoje, mas é um lembrete poderoso de como comunidades pequenas podiam ser incrivelmente organizadas e colaborativas. A vida comunitária era vivida com intensidade, atravessando todas as dimensões da vida humana – da fé ao lazer, da infância à maturidade.

Relembrar essa história é também refletir: que tipo de laços estamos construindo em nossas comunidades hoje?

O que podemos aprender com esses exemplos de integração, onde instituições e pessoas caminham juntas, cuidando umas das outras? Como podemos resgatar esse espírito de pertencimento e cuidado mútuo em nossas comunidades hoje? Ou será que é mais produtivo que cada instituição ou grupo trate apenas dos assuntos que lhes competem? 

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