Vera Hilgemann, 84 anos, foi a primeira dentista de Teutônia. Ela nasceu em Porto Alegre, em 1941, ano da grande enchente, no Hospital Alemão, hoje Hospital Moinhos de Vento. Na infância, utilizava os antigos bondes para chegar no colégio, no Bairro Navegantes. Formada em Odontologia, dividiu seu tempo de estudos na PUC com o trabalho no Citibank. Aposentada desde meados do ano 2000, Vera aproveita o tempo para cuidar da saúde, conversar com os amigos e curtir os filhos, netos e sua primeira bisneta.
Como surgiu a vontade de ser dentista?
Vera Hilgemann – Quando meus pais me levavam ao dentista, era um horror, eu esperneava e gritava. Porém, aos 12 anos passei uma dor de dente terrível. Fui a primeira a levantar em casa, chamei o meu pai e pedi para que ele me levasse ao dentista e aquela sensação de não ter mais dor foi tão boa, que cheguei em casa e disse que queria ser dentista, para poder ajudar a tirar a dor terrível que as pessoas passam.
Como a senhora veio a Teutônia?
Vera – Logo no começo do curso, conheci meu marido, o Telmo Hilgemann, que também era dentista e natural daqui. Me formei em 1964 e fomos morar, por um ano, em Estrela. Logo depois, viemos morar e trabalhar em Canabarro, num consultório ao lado do Curtume Augustin e Reichert, a convite do Hilário e da Ira Augustin. Mais tarde, meu marido trabalhou também como dentista na Calçados Reifer, cerca de 10 anos, a convite do Elimar Schaeffer. Nesse trabalho, meu marido evoluiu muito como ser humano, ele fazia de tudo para salvar os dentes dos pacientes, ele se dedicava muito.
E como era o trabalho?
Vera – Eu e o Telmo atendíamos de forma alternada. Um dia ele estava aqui e no outro em Languiru. Daí as pessoas que vinham procurar nosso atendimento logo perguntavam quem estava atendendo. Uns queriam ser atendidos pelo Telmo e outros por mim, porque eu tinha a mão mais leve. Naquela época, para as pessoas, dentista era para arrancar dentes. Era impressionante. Vinha pessoas com pequenas cáries dizendo que o pai havia mandado arrancar os quatro dentes. Muitas vezes eram umas cáries pequenas e quando a gente argumentava que não precisava, eles insistiam que era para arrancar, caso contrário iriam em outro dentista. Quando os jovens faziam a Confirmação, ganhavam a chapinha de quatro dentes. Quando iam casar, lá pelos 18 anos, de dote, o pai mandava arrancar e dava e dentadura para a noiva. Eles achavam que era certo que todos teriam dentadura. Foi difícil a gente convencer as pessoas, quebrar essa cultura de arrancar dentes. Eu fazia palestra nas escolas, até entrevista em rádio, para conscientizar sobre a importância de manter os dentes naturais. Aos poucos, até nas escolas começaram a cuidar. Eu não me sacrifiquei estudando Odontologia por quatro anos para vir aqui arrancar dentes: meu objetivo era preservar a dentição.
Até quando a senhora trabalhou efetivamente?
Vera – Até o ano 2000. Foram 36 anos de atuação. Fazíamos bastante cursos, mas não fizemos uma especialização em área específica.
E qual foi sua experiência como professora?
Vera – A gente tinha curso superior e tanto eu quanto o Telmo fomos convidados a lecionar. Aqui na escola cenecista (atual Ieceg), dei aula noturna de Geografia e o Telmo lecionava na área de Ciências e Estudos Sociais. Até hoje encontro alunos e sou parabenizada por ex-alunos que se lembram de mim. Deixar marcas positivas na vida das pessoas é muito bom.
Qual a sensação de ter deixado um legado tão marcante na vida das pessoas?
Vera – É muito bom lembrar de tudo e receber o reconhecimento das pessoas. É bacana quando os mais jovens escutam o que os mais velhos falam. Se aprende muita coisa com os idosos e reavivar as memórias é muito importante, é uma alegria para a gente. Esses dias recebi um abraço de uma mulher de São Jacó, que foi cliente minha. E isso vale muito. Assim também com outras pessoas que ajudei e nem lembrava mais. Mas a vida é isso. A gente tem que fazer o bem e esquecer que fez.