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ILUSTRE CIDADÃ

“Foi difícil, mas passei por todas e hoje estou bem”

O quadro Ilustre Cidadã entrevista Tais da Costa Silva

02/05/2025 | 11:42 Atualização: 02/05/2025 | 11:43

Com apenas 15 anos, Tais da Costa Silva é um exemplo de superação e fonte de inspiração para crianças, jovens e adultos. Diagnosticada com câncer aos 6 anos de idade, precisou ter parte da perna direita amputada, o que, de acordo com ela, foi ‘mais fácil’ do que ver seus cabelos caírem em virtude da quimioterapia. Com o sonho de ser modelo, participou da gravação de um longa-metragem e de diversas campanhas publicitárias. Em 2022, começou a se dedicar mais aos esportes. Atualmente, já conquistou 23 medalhas nas modalidades vôlei sentado e natação, treinando todos os dias na capital Porto Alegre.

Qual foi o maior desafio que você enfrentou no processo de combate ao câncer?

Tais da Costa Silva – Durante o tratamento, que durou cerca de um ano, a pior parte foi perder o cabelo, devido à quimioterapia. Quando me falaram que eu teria que amputar parte da minha perna, apesar de ter chorado um pouco, logo superei e me acostumei com a ideia. Mas perder o cabelo, eu não aceitava. 

Com o passar do tempo, me acostumei. Nem quis usar peruca. Deixei meu cabelo crescer naturalmente.

Outro desafio foi quando passei pela cirurgia de amputação. Contraí um vírus no hospital e precisei ficar cerca de 40 dias internada; 3 dias, na UTI. Tive uma parada cardíada e uma respiratória. Foi difícil, mas passei por todas e hoje estou bem. No ano que vem, devo ganhar alta.

Quando iniciou sua relação com o esporte?

Tais – Eu comecei fazendo natação, logo após a amputação, com o objetivo de fortalecer o coto e ganhar mais resistência para praticar atividades físicas. Algumas semanas depois, eu já estava nadando mais rápido que todas as meninas que faziam aula comigo. Inclusive, consegui bater o recorde do treinador na apneia, ficando mais de um minuto embaixo da água. Minha mãe, impressionada, começou a publicar nas redes sociais.

Em 2020, uma treinadora do Grêmio Náutico União me chamou para treinar em Porto Alegre e participar de competições. A partir daquele momento eu focaria no esporte de maneira profissional, não apenas para reabilitação. Treinei três vezes lá e então iniciou a pandemia. 

Em outubro de 2022, comecei a praticar vôlei sentado. Em novembro deste mesmo ano participei pela primeira vez das Palimpíadas Escolares, em São Paulo. Na metade do ano passado, voltei a praticar natação. No final do ano, conheci o parabadminton, que tem sido mais desafiador, pois, diferente do vôlei e da natação, preciso utilizar mais as pernas para me locomover na quadra. 

Quais as principais premiações que você já conquistou em competições paralímpicas?

Tais – Ao todo, já recebi 23 medalhas, sendo a maioria de ouro. No meu primeiro campeonato, em Porto Alegre, pela Associação Esporte+, fiquei em primeiro lugar nas categorias crawl (nado livre) e costas, competindo com meninas que treinavam há mais de dois anos, enquanto eu tinha voltado a praticar há menos de três meses. A partir daí os treinadores começaram a apostar todas as fichas em mim.

Na modalidade vôlei sentado, também recebi premiações junto à Equipe Super Lego. Ficamos em 3º lugar nas Paralimpíadas Escolares de 2022, em São Paulo, e vice-campões em 2023, na mesma competição. 

Como foi a experiência de atuar em um longa-metragem?

Tais – Foi incrível. Fiquei muito feliz com a oportunidade. Desde pequena eu sempre quis ser modelo. Fui agenciada pela Up Models e comecei a gravar comerciais para grandes empresas, como Lebes, Sicredi, RBS TV, Fakini Malhas e Cadena Joias. Foi através da agência que surgiu a possibilidade de eu participar do longa-metragem ‘Uma Carta para Papai Noel’, em 2023, com 13 anos.

A princípio, eu ficaria com o segundo papel principal. Mas, para isso, eu precisaria ficar durante um mês em Porto Alegre, pois as gravações seriam diárias. Como eu estava em período de aula, minha mãe recusou a proposta. Cerca de suas semanas depois, ela recebeu uma ligação dos produtores. Eles disseram: ‘eu quero a Tais no filme’. Então me ofereceram um outro papel, com menos falas; assim, não foi preciso estar todos os dias na cidade. 

A experiência foi maravilhosa. Pude conhecer artistas importantes, como Elisa Volpato e José Rubens Chachá.

Dos trabalhos como modelo, qual mais te marcou?

Tais – Com certeza, o que mais me marcou foi o primeiro, quando eu tinha 10 anos. Era um comercial do Sicredi, para o réveillon. Quem me chamou para este trabalho foi a Mocita Fagundes, esposa do ator Tarcísio Filho. Eu amei todos os trabalhos, mas este foi especial.

Como concilia a rotina de atleta e modelo aos estudos?

Tais – Minha rotina é bem corrida. Estudo no turno da manhã, em Paverama, e treino todos os dias em Porto Alegre. Na terça, tenho contraturno, que acaba às 17h20. Minha mãe me espera em frente à escola e vamos direto para o treino. Nas sextas-feiras eu treino à noite e durmo na casa da minha tia, que mora na capital, para praticar vôlei sentado no sábado de manhã. 

Eu tento levar de maneira leve, mas sou muito competitiva e quero sempre fazer tudo da maneira perfeita. 

O que você sonha para o seu futuro?

Tais – Eu quero ser atleta de alto rendimento. Ainda não decidi em qual modalidade vou seguir. Estou praticando as três (vôlei sentado, natação e parabadminton) para ver em qual vou me sair melhor, ao decorrer do tempo. A princípio, é a natação, modalidade em que consegui quatro índices nacionais e que deve me proporcionar mais oportunidades no futuro.

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