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ILUSTRE CIDADÃO

“Hoje são sete agroindústrias familiares, antes não havia nenhuma”

O quadro Ilustre Cidadão entrevista Ricardo Cord

15/05/2025 | 09:40 Atualização: 15/05/2025 | 11:26

Ricardo Henrique Cord é natural de Linha Catarina. Técnico em Agropecuária pelo Colégio Teutônia, ingressou na Proagro Pioneer, em dezembro de 1981. Anos depois, passou a atuar em indústria fumageira, em Santa Cruz do Sul, até ser transferido para Santo Cristo.

Em 17 de março de 1997, após concurso público, iniciou suas atividades na Emater-RS/Ascar, em Poço das Antas, onde está há 28 anos. Formado em Gestão Pública, pela Ulbra, tem papel decisivo no desenvolvimento do setor primário do município.

Como foi teu ingresso na Emater?

Ricardo Cord – Em 1996, amigos de Santo Cristo insistiram para que eu fizesse concurso para entrar na Emater. Fui fazer a prova em Porto Alegre e consegui aprovação. A Souza Cruz não quis que eu saísse e me ofereceu trabalho em Boqueirão do Leão, mas, no final, optei pela Emater. Como queria retornar para ficar mais próximo da família, indiquei, como opções, os municípios de Vale do Sol, Colinas, Poço das Antas, Brochier ou Maratá.

E como foi a recepção em Poço das Antas?

Cord – O secretário da Agricultura era o Irineu Rucks e ele nos recebeu muito bem, nos levou para conhecer o interior e visitamos os agricultores. Foi na primeira administração do atual prefeito, Glicério Ivo Junges.

E o início dos trabalhos, como foi?

Cord – O governo do RS havia feito um convênio com o Banco Mundial, chamado Pró-Rural 2000, para desenvolver as comunidades mais humildes. No Conselho Municipal da Agricultura, foi apontado que o Gaelzemberg, o Fritzemberg e a Santa Inês eram as localidades mais necessitadas. Sempre com apoio da Secretaria Municipal de Agricultura, visitamos todos as famílias e construímos uma afinidade muito grande.

Foram construídos 14km de redes de água potável, além de saneamento básico, com banheiros e fossas sépticas. Fazíamos todos os projetos e contratávamos a mão de obra. Uma parte da verba foi destinada para a finalização da Sociedade 12 de Maio, em Santa Inês.

O representante do Banco Mundial veio conferir e se impressionou, porque não acreditava que tínhamos conseguido concluir a obra. Hoje, segue sendo o maior ginásio do município, utilizado para diversos fins. Depois, pelo projeto RS Rural, construímos paióis, moradias, redes de água e banheiros também nas localidades de Novo Paris e Paris Baixo.

E como foi o trabalho para criação de agroindústrias e de diversificação de culturas?

Cord – Hoje são sete agroindústrias, antes não havia nenhuma. Fizemos um trabalho forte na silvicultura, introduzimos o eucalipto em substituição à acácia negra. Temos uma fruticultura diversificada, com figo, morango, manga, caqui, frutas cítricas. Tivemos, recentemente, o Segundo Seminário de Fruticultura Diversificada e estamos incentivando cada vez mais o desenvolvimento desta área, em função da crise do setor de carnes.

O leite sempre teve muito destaque, mas hoje a produção está indo para grandes fazendas leiteiras, o que não é o caso das nossas propriedades, que têm, em média, 12 hectares.

Com aves e suínos é a mesma coisa, as integradoras estão procurando o centro do país, onde há produção de milho. Além disso, nossos pequenos agricultores não têm condições de financiar o que é preciso para aves e suínos, nem a infraestrutura necessária em suas propriedades.

A tendência é o crescimento das agroindústrias familiares e da fruticultura. Depois do primeiro seminário, em 2023, foram plantados 45 hectares novos de frutíferas.

Algum ponto marcante nessa trajetória?

Cord – Criamos, em 2002, a Associação de Desenvolvimento Rural Sustentável de Poço das Antas (ADRSPA). Na época, o município tinha três tratores e a prefeitura passou a adquirir máquinas e a cedê-las, em forma de comodato, para que os agricultores pudessem ter acesso. Essa entidade serviu de modelo para outros municípios, como Westfália, por exemplo.

Hoje, a ADRSPA segue sendo muito importante, porque trabalha com um valor mais barato e muitos agricultores ainda não têm trator. E mesmo os tratores que as propriedades hoje possuem, a grande maioria é oriunda de projetos da Emater, através do Programa Mais Alimentos, assim como a grande maioria dos aviários e pocilgas. A base da economia de Poço das Antas, ao longo de muitos anos, foi o setor primário, com cerca de 80% da arrecadação.

E agora os planos são de sair da Emater?

Cord – É uma decisão difícil. As empresas têm seus PDVs e na Emater temos o PDI, que é o Pedido de Demissão Incentivada. Para se inscrever, tem que ter mais de 60 anos e estar aposentado. Pretendo investir no turismo rural no sítio que tenho, em Linha Catarina, na modalidade de colha e pague, na área da fruticultura. Outra ideia é seguir trabalhando na parte de projetos de crédito rural, meio ambiente, Cadastro Ambiental Rural, para auxiliar os produtores. Tenho bastante conhecimento, gosto dessa área, sou conhecido pelas instituições financeiras, que elogiam os projetos encaminhados e, além disso, tenho muita afinidade com os agricultores. Outro objetivo é aproveitar o tempo e viajar.

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