20 de maio de 2025
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SALÃO MENDEL

Memórias de um ponto de encontro que deixou saudades

O Salão Mendel, de Paverama, é mais uma das tradicionais casas de bailes que marcaram época na região. O prédio, no centro de Paverama, era de propriedade de Vitorino Salvadori e foi adquirido por Frederico Osvaldo Mendel (82 anos), no começo da década de 1970.

Por: Marco Mallmann

19/04/2025 | 14:05 Atualização: 19/04/2025 | 14:25
Ricardo e o filho Eduardo em frente ao local onde o Salão Mendel fez história, no centro de Paverama (Foto: Sara Ávila)
Ricardo e o filho Eduardo em frente ao local onde o Salão Mendel fez história, no centro de Paverama (Foto: Sara Ávila)

O Salão Mendel, de Paverama, é mais uma das tradicionais casas de bailes que marcaram época na região. O prédio, no centro de Paverama, era de propriedade de Vitorino Salvadori e foi adquirido por Frederico Osvaldo Mendel (82 anos), no começo da década de 1970.

O filho de Frederico, Ricardo Mendel (54), lembra que o gosto por organizar bailes veio da geração anterior, do seu avô, Clarimundo Mendel, que possuía um salão na localidade de Santa Manoela. “Meu pai conviveu nesse meio desde pequeno, pegou o gosto pela atividade. Sempre foi muito empreendedor, mas promover bailes foi o que ele soube fazer de melhor, e sempre com grande sucesso. Foi o seu grande legado. Até um slogan ele criou: ‘Baile bom mesmo é no Salão Mendel`”, lembra.

Naquela primeira década, o local se consolidou como um dos pontos frequentados pelos jovens solteiros e casais da região. Ricardo enfatiza que havia uma boa relação, e até uma integração, entre os proprietários de salões, na época. Meu pai, o Gastão, o Hagemann, e outros, combinavam as datas em que cada um iria fazer suas promoções, para que não houvesse concorrência, o que garantia que cada baile fosse sucesso de público, trazendo lucro para o promotor”, detalha Ricardo.

Naquela década, grupos como Os Bertussi, Os Montanari e Os 3 Xirus estavam entre os representantes mais famosos do estilo que os bailes exigiam. A música era a de salão, para dançar em par, no estilo bandinha ou gauchesca. “Foi uma época muito interessante, eu era bem pequeno ainda, mas lembro da movimentação. Artistas como Jerri Adriani e Wanderley Cardoso, representantes do movimento da Jovem Guarda, vieram se apresentar, assim como o gaiteiro Jorge Camargo, que também fez alguns shows”.

“Alô, testando”

Mas Ricardo reconhece que o boom mesmo foi na década seguinte, nos anos 80, quando o pop rock passou a dominar o cenário da música. “Em 1983, nos mudamos para dentro do salão, literalmente. Aqueles cinco anos posteriores foram de convívio direto com tudo o que era preciso para organizar os bailes. Como não tinha refrigerador, nos primeiros anos, lembro até hoje do barulho do pessoal quebrando aquelas barras de gelo enormes com martelo, para fazer a cerveja gelar dentro de caixas grandes. A montagem dos equipamentos, o ‘alô, testando´, dos microfones, são lembranças bem claras na minha memória”. Ele não esquece de mencionar ainda o momento das músicas lentas, quando ocorria a formação dos casais e o despertar de muitas paixões. “A história do salão mexe com a memória afetiva. Encontro diversas pessoas que comentam comigo daquela época, que possuem lembranças boas e marcantes, histórias de casais que começaram a namorar nos bailes do Mendel, formaram família e estão juntos até hoje”.

Nesta segunda década, algumas bandas que não podiam faltar no roteiro eram o Barbarella, o Imagem, o Alma Nova, entre outras tantas. O movimento dos ônibus gratuitos, que chegavam abarrotados de gente, de toda a redondeza, nas noites de baile, também ficou gravado na memória de Ricardo.

Junto da mãe, dona Glaci (76), das irmãs Renate e Raquel, e do ajudante Osvaldo Kolling, que era uma espécie de “faz tudo”, o filho mais velho destaca ainda a segunda pista, que tinha piso de parque, “diferente do salão, que era de madeira e, com a lotação e a animação, balançava por conta, nem sendo necessário dançar”, salienta.

O baile era a mídia social da época, agitava a população. Era o momento de integração e de encontro entre as pessoas. “Além dos bailes, o salão foi muito importante para a comunidade. Nele eram realizados casamentos, reuniões, eventos da Escola Estadual de Paverama, como teatro, dança e entrega de boletins. Até como creche o salão serviu e, nele, foi realizada a festa da vitória, após a emancipação de Taquari”, atesta Ricardo.

Foram praticamente 30 anos de atividades com a família Mendel no comando. Em 1998, o salão foi alugado para Ênio Dickel e, depois, para a família Medeiros, que tinha tradição com salão de baile em Taquari. Logo após, Ernani Althaus comprou o prédio e seguiu com os bailes por alguns anos, sob o nome de Salão Althaus.

O prédio foi desmontado por volta de 2015, por não oferecer mais condições de uso, e o terreno hoje está vazio. Apenas a parte traseira da segunda pista continua de pé. Apesar disso, as histórias e lembranças dos que viveram a adolescência e a juventude naqueles anos continuam bem vivas.

Glaci e Frederico Osvaldo Mendel: casal promoveu bailes por quase 30 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

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