O Informativo Regional apresentou, há algumas semanas, um panorama sobre o envelhecimento da população nas próximas décadas e os desafios da gestão pública para lidar com este fenômeno. Essa demanda crescente também mobiliza o setor privado, com a oferta e estruturação cada vez maiores de lares para acolher o público-alvo.
Seja pela necessidade de cuidados permanentes, companhia de outras pessoas da mesma faixa etária, ou até mesmo em função da ausência de parentes, a mudança torna-se uma pauta familiar. Em Teutônia, são 11 instituições para atender a população a partir dos 60 anos, que corresponde a 18,2%, segundo o IBGE. O Conselho Municipal do Idoso estima que 260 vivam nos residenciais.
Atenção humanizada
Com quatro unidades, o Lar Tulipas conta com cerca de 100 moradores. 75% são mulheres. O empreendimento iniciou as atividades em fevereiro de 2018 pelo casal de técnicos de enfermagem, Josiane Scherer e Marco Antônio Martins. Conforme Josiane, a ideia nasceu da vontade de propiciar uma atenção especial e humanizada, a fim de promover a recuperação tanto na saúde quanto no convívio social

Moradores do Tulipas também realizam passeios no jardim, com paradas ao redor do lago. Foto: Sara Ávila
O quadro conta com 35 cuidadores, 12 técnicos de enfermagem, três professoras (duas pedagogas e uma de educação física, médica, enfermeira, assistente social, fisioterapeuta, nutricionista e toda a parte administrativa.
“A equipe realiza o acompanhamento multidisciplinar, desde o controle da documentação, higiene e segurança até a alimentação e melhorias das partes cognitiva e motora, para que volte a ter autonomia e autoestima”, destaca Josiane.
Moradora mais velha do residencial, Walle Diedrich é natural da Linha Wink, tem 102 anos, completados em maio, está há cinco anos no espaço e divide um quarto com a irmã mais nova, Edeltrud Dietrich, de 88. Morou no Bairro Canabarro, região de Passo Fundo, Estrela e Bom Retiro do Sul.
O esposo e a filha são falecidos, enquanto que os dois netos vivem em Lajeado e Marau. Ela destaca que joga cartas, loto e faz pinturas durante o dia. “Não estou doente, nem nada. Não posso me queixar. Me sinto muito querida aqui”, enfatiza.
Além de Teutônia, o Tulipas possui moradores de outras cidades como Westfália, Paverama, Taquari, Estrela, Bento Gonçalves e Carlos Barbosa. Algumas por meio de convênios com as prefeituras. Geralmente, a vinda se dá por conta da falta de vagas ou inexistência de instituições.
Primeiro lar
Aos 80 anos recém-completados, Maria Ledi Cardoso é a presidente do Clube de Mães Lar da Amizade. Desde 1º de outubro de 1997, a entidade mantém o Opa Haus, lar mais antigo de Teutônia. Fundada em 27 de setembro de 1992, a casa foi criada para que os idosos pudessem ter um espaço de convivência e cuidado adequado diante da indisponibilidade de atenção em tempo integral pelos mais jovens. A situação se agravava quando necessitavam de assistência especializada ou possuíam dificuldades de locomoção.
“É um local acolhedor, que oportuniza cuidados básicos, alimentação saudável, oficinas de ginástica e de música, entre outras. Proporciona uma melhor qualidade de vida, num ambiente agradável e familiar”, destaca Maria Ledi. A área construída é de 915,90m² e hospeda, atualmente, 40 pessoas.
“Nosso objetivo é conseguir recursos para construir mais apartamentos individuais e aos casais, que gostariam de ter esta opção de hospedagem conjunta. Também buscamos construir um jardim de inverno, todo de vidro, nos fundos, para que os idosos possam ter um local adequado para tomar sol e ficar protegidos do vento”, complementa. A presidente revela que a dificuldade financeira é o maior obstáculo. A ideia é elaborar um projeto e obter recursos, via emendas parlamentares.

Em Fazenda Vilanova, Sunday Village Care alia os cuidados com os idosos com a infraestrutura de clube. Foto: Divulgação/Sunday Village Care
Novo conceito
Os investimentos vão além do tradicional. Um exemplo é o Sunday Village Care, no KM 372, da BR-386, em Fazenda Vilanova. Conforme a gestora, Marina Lanius Mallmann, trata-se de um residencial clube horizontal com saúde assistida 24h, formato exclusivo no estado.
O condomínio possui 14 hectares e infraestrutura completa, com lotes, apartamentos mobiliados, complexo esportivo, açude, eventos culturais, oficinas de arte e música, capela ecumênica, portaria, heliponto, centro comercial, piscina, transporte próprio, entre outros.
Há três modalidades de adesão: as residências permanente e temporária, além da vivência de um dia. A primeira moradora é de Teutônia. “Proporcionamos amor, carinho e cuidado em espaços convidativos em meio a natureza, com liberdade e segurança. Prioriza-se a socialização e a independência dos moradores”, conclui Marina.
Acompanhamento
De acordo com o Executivo teutoniense, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) atende casos complexos e excepcionais, quando o idoso se encontra em situação de vulnerabilidade, sem familiares ou alguém que possa prestar os cuidados básicas, ou ainda, se houver extrema negligência familiar e rompimento completo dos vínculos.
A partir daí, é possível providenciar a institucionalização do idoso, ou seja, o acolhimento em lares de longa permanência, com base em critérios legais. Vale destacar que a responsabilidade primária é da família. Atualmente, são cerca de 15 institucionalizados pela Assistência Social.
Quanto ao Conselho do Idoso, a vice-presidente, Margrit Grave, destaca que a entidade atua na interlocução junto à comunidade e poder público na formulação de políticas públicas. Igualmente, está inserida na rede de proteção e acolhimento, com fiscalização dos estabelecimentos, verificação de denúncias, visitas aos lares e promoção de ações de conscientização.

Enrico Neiss, Geriatra.
“O residencial geriátrico oferece um importante espaço de convivência e socialização”
Enrico Neiss tem 48 anos, é natural de São Sebastião do Caí e reside em Teutônia 2004, quando começou a atuar no recém-inaugurado Centro Avançado de Saúde, no Bairro Canabarro. Formado pela UFRGS, é Médico de Família e Comunidade pela SBMFC e especialista em Geriatria e Gerontologia pela PUCRS (2010). Atende em consultório particular, em lares de idosos da região e é concursado na prefeitura de Teutônia.
Quais os principais benefícios que um lar de idosos pode proporcionar?
Enrico Neiss – O residencial geriátrico oferece um importante espaço de convivência e socialização importante, com pessoas da mesma faixa etária, num ambiente adequado e seguro para as suas necessidades, com acompanhamento por equipe multidisciplinar. Funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, com administração de medicação, alimentação e cuidados de higiene, bem como atividades recreativas, sociais e culturais. São espaços que promovem saúde física, mental e emocional, prevenindo complicações de saúde e garantindo o bem-estar a longo prazo.
Como fazer com que o idoso não se sinta abandonado nesses locais?
Neiss – É importante que os familiares organizem visitas regulares ao idoso, presenciais e/ou através de ligações telefônicas e videochamadas, bem como participem de atividades realizadas pelo lar, especialmente em datas especiais. O idoso deve poder colocar, em seu quarto, objetos pessoais e fotos da família, que trazem alegria e desfazem esse pensamento de abandono.
Como fazer com que a família aborde esse assunto?
Neiss – É necessário que a conversa seja sempre aberta, sincera e bastante clara. Deve-se mostrar para o idoso os motivos que levam a se pensar nessa possibilidade, bem como ouvir suas preocupações, desejos e ideias. Ele deve participar de forma ativa na escolha do lar, acompanhando as visitas realizadas pela família, conversando com profissionais e outros moradores, se for o caso. Para os idosos sem comprometimento cognitivo, essa decisão conjunta, com respeito à sua autonomia, é fundamental e garante uma boa transição e adaptação à nova moradia.
Como convencer o idoso que pode ser uma boa opção?
Neiss – A partir do que é disponibilizado na proposta de cuidado: ambiente acolhedor e estimulante, cuidado integral e adequado para suas necessidades, atividades recreativas e de socialização que estejam de acordo com os seus interesses, hobbies e gostos pessoais, contribuindo para sua qualidade de vida. Pode-se combinar com a instituição um período experimental em que o idoso possa vivenciar o dia a dia e avaliar se o lar atende às expectativas. A presença da família é fundamental nesse momento (e sempre), para mostrar que o idoso continua sendo amado e valorizado.
Quando é hora de ir para um lar de idosos?
Neiss – Quando a família não consegue mais atender às necessidades do idoso em casa, o que pode acontecer no caso de dificuldades de locomoção/mobilidade, perda da autonomia e quadros que exijam monitoramento permanente, com sequelas de AVC e uso de sondas. Deve-se avaliar os prós e contras do cuidado, como a contratação de cuidadores, disponibilidade dos familiares, divisão de tarefas, equipamentos, manejo e manutenção. Outro cenário é se o idoso mora sozinho e os familiares vivem longe.
Por fim, há circunstâncias temporárias, como a necessidade de reabilitação física e funcional após cirurgias e internações, bem como em situações nas quais a família precisa viajar ou permanecer algum tempo fora da residência e o idoso não pode ir junto.