O evento, ocorrido nas colônias, serve como informação histórica e relato pitoresco. O modesto comerciante, da distante e simples localidade, resolveu promover seu aguardado e tradicional baile anual. Dono da casa comercial e salão de baile, ele almejava angariar lucro e promover a integração social.
A festa, na época do período da Campanha de Nacionalização de Getúlio Vargas (1937-1945), confrontou-se com o problema de infração da legislação vigente. A lei nacional, em vigor por decreto presidencial da ditadura de Vargas, apregoava: “É proibido falar o idioma alemão, italiano e japonês. No Brasil fala-se somente o português. Os infratores serão punidos com todo o rigor da lei” – texto afixado nos locais pelo Departamento Central da Polícia/RS).
A esmagadora maioria dos frequentadores rurais, na comunidade de origem essencialmente germânica (fruto do modelo de colonização), desconhecia a fluência na fala do idioma português. O dialeto germânico do Hunsrück (proveniente da Renânia-Palatinado/atual Alemanha), trazido pelos colonizadores, era a língua centenária e corrente da descendência (no lugarejo).
O baile vespertino (das 15h às 20h), em idos de 1943, ganhou a impensável e inesperada inspeção e visita da autoridade policial. A inusitada presença de um agente da repressão gerou cochichos e tirou o esplendor do evento.
Os presentes, no receio de serem enquadrados na lei nacional – e serem humilhados e presos numa eventual arbitrariedade policial -, deixaram de conversar-se entre os próprios conterrâneos e familiares. As interações entre naturais e visitantes foram realizadas através de ocasionais gestos e peculiares olhares, numa linguagem de mímicas.
A destacada autoridade, na falta do flagrante, incorreu na impossibilidade de fazer prisões e repressões no exercício do ofício. O transcorrido ficou registrado na história oral e memória comunitária como o esdrúxulo e inusitado baile das mímicas e do silêncio.
Os colonos, como cidadãos teuto-brasileiros, almejavam distância dos aborrecimentos, arbitrariedades e humilhações com as implementadas leis da nacionalização forçada (na base da repressão nacional).
A artimanha do silêncio, diante dos excessos das autoridades e legislações (mesmo contra inocentes), revelou-se uma ardilosa estratégia e primoroso subterfúgio à adversa situação.