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LEGADOS CULTURAIS

O celeiro de pedras

Opinião de Guido Lang, escritor e historiador

20/02/2025 | 13:45 Atualização: 20/02/2025 | 13:46

A criação da Colônia Particular de Teutônia (em 1858), em meio à floresta subtropical pluvial, escreveu um pleito de sangue e suor ao trabalho. Os pioneiros teutos, oriundos de variadas procedências, travaram uma verdadeira luta na colonização e ocupação. As pedras brutas, de arenito e basalto, passaram a ostentar grande serventia e transcrever um capítulo singular na exploração mineral.

Os múltiplos veios, comuns nas rochas grês, começaram a ser explorados como material para edificações de alicerces, calçadas, cercados, paredes.

A Linha Capivara, entre 1868 e 1970, revelou-se como o celeiro das pedras grês das paragens teutonienses.

O magnífico afloramento da rocha matriz, em meio ao céu aberto da mata, levou à formação de múltiplas improvisadas pedreiras.

Algumas famílias tornaram-se peritas na extração das ditas pedras de areia. Poucos povoadores, paralelamente ao ofício de agricultores, tornaram-se pedreiros leigos, quebrando milhares de unidades. O trabalho braçal, com base nas ferramentas artesanais e tração do ‘muque`, transportou as peças às variadas propriedades.

O comércio de pedras, em espécie de escambo, acabou empregado nas interações comerciais. As pedras, brutas ou trabalhadas, foram matéria-prima para edificação dos bebedouros, estábulos, igrejas, moradias, paióis, pontes, represas. Os “quebradores”, na atenta reparação dos frisos, extraíam as unidades de variados tamanhos, conforme as necessidades dos clientes.

O tipo de pedra, em pedaço mais duro ou mais macio, recebia a ação da perfuração com os afiados ponteiros de metal. As marteladas iam abrindo e alargando frisos e destacando as múltiplas unidades do conjunto. As peças impróprias eram empregadas no aterro de atoleiros e na construção de cercados.

A prefeitura de Estrela, para construir paredes e travessas, encomendou salientes pedras. As encomendas eram fornecidas pelas diversas pedreiras da afamada Linha Capivara. A tradição oral versa: “onde havia abundância de areia e pedras grês, existia o potencial de haver ouro”. Os relatos orais silenciam sobre achados específicos, apesar das estórias de tesouros enterrados.

As pedras, em aparente estorvo rural, ganharam extrema serventia como mineral precioso. As peças, como testemunhas de época, revelam facetas da colonização. A Linha Capivara, na questão da exploração mineral, originou um magnífico episódio da saga da Colônia Teutônia.

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