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Profissão Professor

Os desafios do ensino em tempos de transformação 

Em meio aos avanços tecnológicos, novos padrões sociais e comportamentais, docentes de diferentes gerações buscam se reinventar para transmitir conhecimento

Por: Marcel Lovato

15/10/2025 | 23:04

“Professores brilhantes ensinam para uma profissão. Professores fascinantes ensinam para a vida”. A frase do psiquiatra e escritor Augusto Cury traz uma dimensão da representatividade da profissão, celebrada nessa quarta-feira, 15, em todo o Brasil.

Do quadro negro e giz para as telas e plataformas digitais, educadores de diferentes gerações buscam se adaptar para atender ao propósito primordial: a transmissão do conhecimento.

Veterano das salas de aula, o professor de Língua Portuguesa e Redação, Vitor Ernesto Krabbe, 59, se dedica ao ensino há 37 anos. Destes, passou 31 anos no Colégio Cenecista General Canabarro (IECEG).

Também atuou na Escola Estadual de Ensino Médio Gomes Freire, Escola Municipal Vila Schmidt, em Westfália. Hoje, atua no Colégio Teutônia e na Escola Estadual de Ensino Médio Reynaldo Affonso Augustin, onde está há 29 anos.

Mudança comportamental

Com formação complementar pelo Instituto de Formação de Professores de Língua Alemã (IFPLA) e especialização em educação inclusiva, Krabbe destaca uma alteração no comportamento dos estudantes que faz a diferença na rotina.

Se antes a palavra do professor era “lei”, sem questionamentos, hoje o aluno cobra o conhecimento de quem leciona, quer mais embasamento, contrapõe, exige saber como tal conteúdo vai influenciar em sua vida. Mais do que decorar, é preciso mostrar o “onde e os porquês”.

“Mais do que nunca, o professor tem que quebrar barreiras. Comprovar o quanto aquele conteúdo vai ter relevância. Se alcançar esse objetivo, ele conquista a classe, há mais respeito e a aula flui melhor. Salvo exceções, o estudante ainda valoriza a bagagem intelectual de quem está ali para ensinar”, enfatiza Krabbe.

O professor lembra que, ao longo do tempo, adaptou o modo de dar aulas. Atualmente, é necessário ir além do convencional, mesclar slides com escrita no quadro, promover dinâmicas capazes de quebrar o gelo. Isso vale tanto para escolas públicas quanto particulares.

Em relação aos problemas, Krabbe avalia que alguns estudantes não têm mais perspectiva, não possuem sonhos concretos e são imediatistas, um reflexo, também, do uso das redes sociais.

A concentração e atenção reduziram gradativamente com o passar dos anos. Quanto à inteligência artificial (I.A.), a tecnologia pode ser parceira se for usada com parcimônia e adaptada à didática.

Com 37 anos de profissão, Vitor exalta o papel do professor na formação crítica e intelectual de diferentes gerações. Foto: Marcel Lovato

No ponto de vista social, enfatiza o descrédito de uma parcela quanto ao trabalho dos educadores, o que, por vezes, contribui para certa hostilidade.

“Se fora da escola não houver respeito, isso também vai se repetir aqui dentro. Quem hoje xinga um professor, não lembra que foi ensinado por outro”, completa. A carga horária, por vezes, é maçante por conta das atividades complementares fora da sala de aula.

O docente defende, inclusive, uma permanente campanha nacional de respeito e valorização integral da categoria, essencial para mudar a mentalidade e dar um novo gás à função.

Questionado sobre o que o levou a escolher a carreira, Vitor recorda a facilidade que tinha para ensinar, aprender e se sentia realizado na resolução de problemas. Assim, as coisas aconteceram naturalmente.

“Ser professor é ser capaz de mostrar formas de abrir horizontes, despertar uma luz e a motivação para lutar por algo melhor”, explana com orgulho. Entre outras curiosidades, o fato de já ter lecionado para uma avó, mãe e neta e em turmas com até 54 estudantes. Ainda, o reconhecimento de quem já foi seu aluno. Uma prova do trabalho bem feito.

Ideais de uma jovem docente

Se Vitor possui quase quatro décadas de profissão, o cenário é oposto ao de Camila Sperotto. Aos 20 anos, são apenas três na docência da Língua Inglesa, com experiências acumuladas dentro e fora da sala de aula. A inspiração vem da mãe, Marciane, considerada uma referência de dedicação e amor ao ato de lecionar. Para a jovem, ensinar vai além, pois envolve afeto e compromisso com a formação integral dos estudantes, que são crianças.

Segundo Camila, suas aulas buscam incentivar a troca de experiências e criar espaços para que os discentes expressem sua individualidade. “O aprendizado se torna mais significativo quando desperta a curiosidade, essencial para o crescimento humano e intelectual”, afirma.

Além do trabalho no Colégio Teutônia, a professora participa como bolsista de Iniciação Científica na Univates, experiência que, em seu ponto de vista, amplia a visão e permite o diálogo com outros educadores e pesquisadores.

A reflexão crítica sobre a própria prática também é uma exigência da docência contemporânea. Nesse sentido, menciona que a dedicação exige planejamento, além da capacidade de conectar o conteúdo com experiências concretas, como aulas ao ar livre ou em outros ambientes escolares.

Prós e contras

Entre os desafios da profissão, Camila cita uma frequente depreciação de parte da sociedade, que leva à falta de reconhecimento da complexidade do trabalho. “Ensinar é uma arte que exige sensibilidade, estudo e dedicação”, explica. A professora também observa os impactos da tecnologia, sobretudo no âmbito da I.A., que é bem-vinda quando utilizada de forma responsável.

Na gratificação, o retorno diário dos estudantes, seja nas descobertas, olhares ou palavras. Camila defende que se trata de um aprendizado contínuo, pois são construídos caminhos “de esperança e transformação”.

Sobre a possível escassez de professores em um futuro não tão distante, Camila sublinha a importância de analisar este movimento e pensar em políticas públicas, incentivos que despertem o interesse das novas gerações.

Da nova geração de docentes, Camila considera que o despertar da curiosidade é uma das chaves do aprendizado. Foto: Arquivo Pessoal

A Data

O Dia do Professor é celebrado no país em 15 de outubro porque foi nessa data, em 1827, que o imperador Dom Pedro I determinou a criação das primeiras escolas elementares ou “escolas de primeiras letras” nas cidades, vilas e povoados.

Mais tarde, em 1948, a professora e deputada estadual de Santa Catarina, Antonieta de Barros, fez história ao elaborar a primeira lei que fez referência à data. A parlamentar também foi a primeira mulher negra eleita no país.

Contudo, a oficialização em âmbito nacional se deu somente pelo Decreto 52.682, publicado pelo então presidente João Goulart. Como se trata de um feriado escolar, não integra a lista divulgada anualmente pelo Governo Federal.

Outra curiosidade diz respeito à padroeira da profissão: Santa Teresa de Jesus (1515-1582), cuja festa litúrgica é celebrada nesta data. Ela foi a primeira mulher proclamada como Doutora da Igreja, reconhecimento feito pelo Papa Paulo VI em 1970. Considerada uma das mais brilhantes figuras da história, se notabilizou pela pedagogia exemplar e lições de espiritualidade, sabedoria e inteligência.

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