18 de abril de 2025
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PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO

Pinturas quase centenárias necessitam de restauração

Prestes a completar um século, arte da Igreja São José, em Santa Manoela (Paverama), precisa ser restaurada. Comunidade pede apoio do poder público para valorização do templo histórico, um dos únicos do estado a contar com afrescos que retratam a fé dos imigrantes que colonizaram a localidade

10/10/2024 | 15:59 Atualização: 05/03/2025 | 14:13
Riqueza dos detalhes impressiona quem 
entra no templo (Foto: Édson Luís Schaeffer)
Riqueza dos detalhes impressiona quem entra no templo (Foto: Édson Luís Schaeffer)

A igreja da Comunidade Católica São José, por si só, já chama a atenção de quem passa pela localidade de Santa Manoela, interior de Paverama, por sua arquitetura e beleza ímpar. Mas o que muitas pessoas não fazem ideia é que seu interior preserva um dos maiores patrimônios culturais do Vale do Taquari. São diversas pinturas e inscrições nas paredes e no teto, no idioma alemão, que retratam a fé dos imigrantes que colonizaram a localidade e que, agora, precisam ser restauradas.

Algumas deteriorações na estrutura, decorrentes da ação do tempo, do uso e até mesmo das condições climáticas e ambientais exigem intervenções no templo. Mas, até mesmo um simples reparo precisa ser cuidadoso, sob o risco de danificar as pinturas artísticas feitas em 1925 – ou seja, há quase 100 anos – por João Inácio Rech, conhecido como Irmão Nilo. Em uma das paredes, onde está o mezanino, já é visível a ação do tempo. A pintura se deteriora e apenas poucos traços, incluindo o rosto de uma santa, ainda permanecem.

Por isso, a comunidade busca apoio do poder público para restaurar o templo e, assim, preservar as obras de arte das demais paredes e, ainda, do forro, este totalmente de madeira. A originalidade dos trechos bíblicos, imagens de santos e figuras celestiais que completam a maior parte dos espaços da capela só é afetada por manchas brancas que tapam inscrições em alemão. Resultado de um decreto do governo federal, que proibia expressões em língua estrangeira no ápice da Segunda Guerra Mundial, em 1942.

O presidente da comunidade, Hélio José dos Santos, o “Alonso”, e sua esposa, Neide, juntamente com os demais membros e a Paróquia Nossa Senhora do Rosário, de Paverama, procuram incansavelmente formas de restaurar as obras de arte. No entanto, como a restauração exige um trabalho especializado, o investimento necessário é alto. “Em um orçamento realizado há algum tempo, o valor da restauração beirava R$ 1,5 milhão”, conta Santos.

Diversas conversas ocorreram com a atual administração municipal. O novo governo eleito também já foi contatado e sinalizou na possibilidade de investir na restauração do templo com o aporte de recursos federais, o que dá à diretoria uma luz no fim do túnel. “Não podemos deixar essa história, essa riqueza se apagar. A igreja e sua arte fazem parte da nossa história e simbolizam a nossa fé. Mas, mais que isso, ela é capítulo importante da história de Paverama e, por isso, precisamos dessa ajuda do poder público, antes que seja tarde demais”, afirma o presidente.

Romeu Kunrath dedicou mais de 50 anos a ajudar na preservação do templo (Foto: Édson Luís Schaeffer)

51 anos dedicados à igreja

Da janela de sua casa, o professor aposentado Romeu Kunrath, 79 anos, e sua esposa Noeli Jantsch Kunrath, 71 anos, vê o templo que faz parte de sua história e tem a esperança de que a restauração ocorra o mais breve possível. “Dediquei 51 anos da minha vida a esta igreja e à comunidade. Hoje só não faço mais porque minha saúde não permite”, ressalta.

Ele viu de perto a luta da comunidade em preservar o templo e sabe, como poucos, a história do local. Seu pai era professor da escola da localidade, construída quase em frente ao templo. Anos depois, Kunrath assume a missão de ensinar. Atrelado a isso, vem a função de substituir o pároco em diversos momentos, como as celebrações nos dias que não havia missas e as encomendações fúnebres.

Com o apoio da esposa, organizava a sacristia para as missas, ornamentava a igreja e tocava o sino, o que o levou a ser conhecido como guardião do templo. Dedicação que o fez herdar a casa construída em 1898, onde atualmente residente e que serviu, por muito tempo, como moradia do professor. “Muito do que sou, devo à esta comunidade. Ela é parte da minha vida. Por isso, a restauração de sua arte é preservar uma história de amor, carinho, dedicação e união desta comunidade, que tanto contribui com o desenvolvimento de Paverama”, sublinha.

Festa anual

Se depender dos aproximadamente 230 membros, a Comunidade Católica São José seguirá mostrando a sua força em Paverama e na região. Isso promete ficar evidente no dia 27 de outubro, quando ocorre a tradicional festa anual, que inicia às 10h com missa, seguida de almoço, a partir das 11h30min, ao custo de R$ 50,00. À tarde, baile com Banda La Paloma, a partir das 14h, e Os Atuais, às 17h. “Venha conhecer nossa comunidade e celebrar conosco”, convida o presidente, Hélio José dos Santos.
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Com pedra fundamental lançada em 1912, o prédio se mantém idêntico ao que era no século passado. Dentre as únicas mudanças, estão a substituição do piso e da iluminação, a troca do telhado – posteriormente novamente restaurado, devido a um temporal – e a automatização do sino.

O templo se localiza a cerca de seis quilômetros do Centro de Paverama. No segundo e quarto domingo de cada mês, às 8h30min, ocorrem as missas no local. Já no primeiro domingo de cada mês ocorre a oração do terço, também às 8h30min. Embora esteja fechada no restante do tempo, a comunidade é solícita e abre o espaço aos turistas, sob agendamento.

Presidente da comunidade, Hélio José dos Santos, mostra, em uma das paredes, os danos à pintura, já quase irreversíveis (Foto: Édson Luís Schaeffer)

Esforço pelo tombamento

O pároco da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, padre Marcos Leandro de Oliveira, ressalta que a capela é um patrimônio histórico e religioso de Paverama. “Não só pela idade, mas pelo que ela representou e representa para o povo simples que lançou suas bases na localidade sem se esquecer de louvar a Deus pelas graças concedidas. A arte simples, mas de muito bom gosto, expressa uma religiosidade genuína e sui generis, de uma comunidade que procura dar a Deus honra e majestade com aquilo que tem nas mãos e no coração”, pontua. Segundo ele, várias reuniões já ocorreram para restaurar o templo, mas o custo elevado dificulta avançar no tema.

A coordenadora de Cultura de Paverama, Erenilta Corrêa Bernardo, entende que o tombamento do local seria a melhor forma de conseguir patrocínios para a restauração via leis de incentivo. “Já tivemos conversas com a comunidade, mas os projetos iniciais para o tombamento também exigiriam um valor bem expressivo. Mas, sim, sabemos da importância deste espaço para o município de Paverama, pela sua riqueza histórica e cultural, sendo um grande potencial ainda a ser explorado”, frisa.

A prefeita eleita para a gestão 2025-2028, Michele Vargas, da mesma forma, destaca a importância da capela São José para o município, tanto na arquitetura quanto em sua riqueza artística, e confirma que o município será parceiro, na medida do possível, na restauração do templo. “Esta igreja certamente é um grande orgulho do nosso município. Havendo a possibilidade legal, com toda certeza temos a intenção de contribuir na restauração deste espaço magnífico”, enaltece.

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