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LEGADOS CULTURAIS

Quem está na fotografia?

Opinião de Carlos Campos, professor e escritor

09/01/2025 | 09:52 Atualização: 16/01/2025 | 09:57

Uma das memórias que tenho da minha infância foi o dia em que minha mãe decidiu criar legendas para todas as fotografias reveladas que ela tinha guardado. Eram inúmeras fotografias, as quais ela espalhou sobre a sua cama de casal, preenchendo-a totalmente. Era tarefa árdua, pois era preciso identificar o momento, a data e quem estava na foto, a fim de garantir mais clareza nos anos seguintes. Essa atividade durou dias, a ponto de ela ir dormir em outro cômodo da casa.

A fotografia é um bem do nosso período contemporâneo, data do século XIX, apesar do seu processo evolutivo ter iniciado na antiguidade. No entanto, no século XX, ela se popularizou e seu processo de revelação (impressão) se disseminou. Infelizmente, tal prática tem se esgotado com o advento das câmeras digitais e dos celulares, permitindo inúmeras fotografias armazenadas no modo digital.

O propósito de escrever sobre a fotografia é que ela desempenha, no meio cultural e histórico, um papel fundamental

Ela é um documento. Exatamente como um contrato, uma ata, um registro de imóvel ou até a memória, como citei no meu último artigo em outubro de 2024, nesta mesma coluna. Inclusive, afirmo que a fotografia é a extensão da memória, pois ambas se completam. A memória produz, através da fotografia, o imaginário do momento e seus personagens, como a própria fotografia comprova a veracidade do relato memorial.

Infelizmente, a maioria das pessoas, não percebe o quão valioso é o que está por trás de uma imagem. Ignorando seu valor, não armazenam de forma adequada, ou, ainda, não registram em formato de legenda (como minha mãe decidiu fazer) os dados daquela imagem.

Recentemente, tive a perda do meu avô materno, e, como é costume, após o falecimento são distribuídos os pertences. Em uma das gavetas da cômoda, estavam as fotografias. Contudo, eram antigas demais para quem as olhasse e tentasse identificar quem eram. Tornaram-se fotografias sem valor.

Desejo imensamente tornar esse texto útil para todos os nossos leitores. Identifiquem suas fotografias, para que as futuras gerações possam reconhecer seus antepassados e, com isso, ampliar seu conhecimento sobre sua identidade. Também estendo meu pedido aos agentes públicos: identifiquem as imagens das repartições, para que os próximos gestores e historiadores continuem a História a ser contada. Aos que guardam suas imagens no formato digital: façam algum modelo de legenda, pois independentemente se a imagem é impressa ou não, o importante é identificarmos quem está na fotografia.

Carlos Campos
Professor e escritor

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