Até o final da década de 1980, a maioria das comunidades do interior não possuía salões comunitários. Os espaços particulares se destacavam por sediar os mais diferentes tipos de eventos.
Um deles foi o Salão do Gastão, em Linha Wink, na divisa de Teutônia e Estrela, que fez história por mais de três décadas. De 1967 a meados do ano 2000, o local, comandado por Gastão Luiz Wagner (in memoriam), era o ponto de encontro da comunidade. Nele, ocorria a maioria dos casamentos dos moradores locais e dos arredores, como Linha Lenz, São Jacó, Linha Geraldo, Novo Paraíso, entre outras. Ali eram realizados os bailes de sociedade (Vereinsball) e bailes de corais. Sem falar no Grupo de Bolão 1º de Abril, que tinha as pistas dentro do salão e representava a comunidade em torneios na região.
O Salão do Gastão era famoso também pelos bailes que promovia. Nos primeiros anos, os grupos Copacabana Band, Super Banda Maringá, Os Signos, Os Siderais, Guarujá, Os Atuais, Os Futuristas, Banda União, Pepe Show e o grupo 7 Brasas, formado só por mulheres, bem como As Loirinhas de Ouro, eram algumas das atrações que reuniam centenas de jovens. Depois, nos anos 80, vieram as bandas Salão do Gastão: artistas nacionais atraíram multidões TRÊS DÉCADAS DE SUCESSO Força do rádio e da TV possibilitaram que Perla, Amado Batista e Walter Basso marcassem a história de Linha Wink Prédio sediou festas por mais de 30 anos e hoje não pertence mais à família Wagner Ritmo Quente, Barbarella, Impacto, Santa Paula, Ego Mecanoide, Imagem e Alma Nova. Gastão introduziu ainda o som mecânico – equivalente aos atuais DJs – na pista 2, mas nunca abriu mão das bandas ao vivo no palco principal.
Shows nacionais

Crédito: Celson Weirich
Em setembro de 1978, o proprietário decidiu ousar para os padrões da época: trouxe o cantor Walter Basso, que estava estourado nas rádios AM do país com a música “Castelo de sonhos”. Foram mais de 1,5 mil ingressos vendidos para o show.
Em 23 de fevereiro de 1980, foi a vez de Amado Batista pisar no palco, quando a música “O fruto do nosso amor” estava na ponta da língua dos brasileiros e sua presença em programas televisivos era constante. Novamente a casa lotou, com cerca de 1,7 mil pessoas.
Porém, o ponto alto foi o show da cantora Perla, no Baile de Páscoa, em 5 de abril de 1980. De origem paraguaia e famosa por versões de canções do Abba, como “Fernando”, “Pequenina (Chiquitita)”, entre outras, a artista havia participado, na semana anterior, no programa do Chacrinha, na TV.
“Era o auge da carreira e até aquele momento ela não tinha vindo a nenhuma cidade do interior do RS. Meu pai teve que adiantar 50% do pagamento através de depósito bancário. Era uma garantia para a artista, até porque Linha Wink era uma localidade desconhecida”, lembra o filho de Gastão, Roger Wagner, 57 anos, adolescente na época. Ele destaca que seu pai era uma figura folclórica e gostava de “contar vantagem”, o que fez com que a maioria das pessoas não acreditasse que Perla viria. “Todos diziam: ´essa é mais uma das histórias do Gastão´”, recorda.
No entanto, Perla não só veio e cantou seus maiores sucessos, como também reuniu o maior público da história do salão: foram mais de 1,9 mil pessoas. Até falecer, em 2015, aos 76 anos, Gastão guardava, orgulhoso, uma foto de Perla na sua carteira, como lembrança daquela noite memorável.
Reconhecimento
Roger enfatiza a colaboração da mãe, dona Schirly Wagner (88 anos), e da irmã, Rosângela (61 anos), para o sucesso das promoções realizadas. “Elas trabalhavam muito para limpar e preparar tudo. Havia mesas com decoração.
A cozinha preparava pastéis, cachorros quentes, batata frita, cuca e linguiça, tudo com matéria prima e carne local. Os próprios músicos das bandas destacavam a comida deliciosa: ou churrasco, ou galinhada com maionese. Minha irmã preenchia os cartazes que eram colados em pontos estratégicos, além de auxiliar no guarda-volumes”, conta.
O Salão do Gastão encerrou suas atividades no final da década de 1990. Com o surgimento de salões na maioria das comunidades, a concorrência para sediar festas aumentou. “Os custos para organizar bailes se tornaram altos e, mesmo com casa cheia, sobrava pouco ao organizador”, aponta Roger. O prédio passou por reformas, sediou outros empreendimentos e agora não pertence mais à família. Em breve, passará a sediar uma fábrica de estofados.
Música contribui para a formação e profissão
Vivenciar a movimentação musical e os bailes influenciou diretamente a vida de Roger. Ele é músico, baterista e percussionista. Além de ter vivido, de perto, os pais organizando festas e bailes, iniciou tocando tarola nos comícios da emancipação de Teutônia, em 1981, aos 14 anos, também motivado pelo pai, que era entusiasta da criação do novo município. No ano seguinte, integrou o Grupo Onda e passou a animar bailes. Em março de 1983, participou da fundação da Banda Municipal de Teutônia, hoje Orquestra de Teutônia. É o único membro original, há 42 anos.