Guido Lang nasceu em 18 de junho de 1958, no interior de Boa Vista Fundos, Teutônia. No Vale do Sinos, estudou Teologia, Estudos Sociais e História e fez pós-graduação em Metodologia de Ensino. Atuou como professor em Campo Bom e Novo Hamburgo, lecionando História, Geografia, Ciências Naturais, Ensino Religioso, Educação Moral e Cívica, Cidadania e Organização Social e Política do Brasil. Após a docência, atuou como historiador arquivista e preservador do patrimônio arquitetônico. Hoje, mantém as pesquisas históricas no interior de Teutônia, com dedicação especial a temas ligados à imigração alemã.
Quando começou teu interesse por História e Geografia?
Guido Lang – Desde o berço. O fato curioso é que a família falava exclusivamente o dialeto alemão (do Hunsrück) e estava há quatro gerações no Brasil. O “coloninho Guido”, até os oito anos de idade, não sabia pedir água no idioma oficial. O português começou a ser assimilado na escola. A família enaltecia e valorizava muito a história oral, assim o dialeto e a religião luterana, faziam parte da formação e identidade cultural. Meu anseio profissional era o de ser escritor, sempre fui fascinado pela leitura e pela escrita. No meu entender, essa é a maior invenção humana. No início, busquei saber o que os descendentes de bárbaros da Velha Germânia estariam fazendo nas paragens subtropicais da América; quais eram os legados e origens dos ancestrais germânicos que povoaram as terras da Colônia Teutônia; e qual era o modo de agir e pensar dessa humilde gente, na condição de grupo étnico minoritário no Brasil.
Quantos livros já escreveste sobre o tema e como é teu trabalho como escritor hoje?
Lang – Publiquei 12 livros, de 1992 a 2015, e tenho mais de cinco dezenas ainda a lançar. Tenho muitos artigos, estimados em cinco mil, publicados em almanaques, anuários, blogs e Facebook, jornais e revistas. A coleção de diários, de 1981 a 2024, requer publicação futura, bem como artigos organizados em livros. Os livros encontram-se disponíveis em bibliotecas, na Amazon e com integrantes da minha família. Criar e elaborar literatura é uma habilidade de um seleto grupo de apaixonados pelas letras. Meu trabalho atual de elaboração de livro está demandando pesquisar as histórias e memórias das nossas variadas comunidades e conterrâneos. Eu sempre digo que os escritos assemelham-se ao vinho: quanto mais velhos, mais singulares e valiosos se tornam.
Quais as atividades que desenvolves e qual a importância de preservar a cultura?
Lang – Escrevo uma diversidade de crônicas diárias, divididas em temas coloniais, cotidianos, escolares, financeiros e urbanos. A escrita, como paixão, virou uma obsessão e vocação. A importância de escrever está relacionada ao hábito de deixar registrada as vivências comunitárias e pessoais. Alguns estudiosos, no futuro, vão pesquisar e procurar informações sobre os fatos transcorridos. Poderão, então, encontrar subsídios. A minha sugestão é que as entidades e famílias, através de exemplos e ideias, comecem a registrar sua história comunitária e particular. A ação de escrever sobre a própria descendência deve ser encarada como um “tema de casa”. As pessoas, ao aprenderem com os acertos e erros do passado, podem encontrar exemplos e inspiração para um futuro promissor. Acredito que, com o acréscimo de conhecimento, ocorrerá uma evolução do espírito no gênero humano.
Como o poder público pode auxiliar nessa preservação?
Lang – Os poderes públicos devem e precisam incentivar a ampliação, inovação e promoção da cultura imaterial. Um maior volume de recursos financeiros precisa ser investido na compra e impressão de materiais, na construção de prédios próprios, na criação de arquivos e museus, no financiamento de edições e pesquisas de monografias/livros, na qualificação de bibliotecas e espaços culturais, na promoção de concursos literários e feiras de livros. Os escritores, em sua maioria, costumam ser lobos solitários. Qualquer povo, reunido em comunidades e famílias, precisa da impressão dos registros escritos, cabendo às instituições dar e oferecer respaldo financeiro e social. São obrigações do poder público investir em cultura e educação de qualidade, pois isto contribui no surgimento de artistas, escritores, cantores. A arte, a escrita e a literatura podem ser enriquecidas de maneira bem mais significativa.