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LEGADOS CULTURAIS

Teutônia e suas raízes no Hunsrück

Opinião de Júlio César Lang, escritor, geógrafo e professor

26/06/2025 | 11:42 Atualização: 26/06/2025 | 11:44

Teutônia, situada no Vale do Taquari, é um exemplo marcante da presença germânica no Brasil. Fundada em 1858, preserva, de forma expressiva, os costumes, a cultura e o idioma trazidos dos reinos germânicos — especialmente da região do Hunsrück, no sudoeste da atual Alemanha.

A imigração germânica no Rio Grande do Sul teve início em 1824, com a criação da “Colônia Alemã de São Leopoldo” (na atual São Leopoldo), pelos colonos germanos. Nas décadas seguintes, milhares de famílias desembarcaram no Brasil, fugindo da instabilidade que marcava a Europa no período. Grande parte desses imigrantes veio do Hunsrück, uma região montanhosa situada entre os rios Mosela e Reno, no atual estado da Renânia-Palatinado.

Naquela época, o Hunsrück era uma das regiões mais pobres do território germânico. Suas pequenas propriedades rurais, frequentemente divididas entre herdeiros, já não sustentavam o aumento populacional. A industrialização era incipiente, os empregos escassos nas aldeias e vilas, e a população rural sofria com pesados tributos, crises econômicas recorrentes e, muitas vezes, a obrigatoriedade do serviço militar.

Diante desse cenário, o Brasil — com suas terras férteis e promessas de oportunidades — tornou-se uma alternativa atraente. Foi nesse contexto que Teutônia foi povoada (majoritariamente de 1862 a 1882), oferecendo esperança e perspectivas de uma vida melhor. Os imigrantes hunsrückianos trouxeram consigo seu dialeto, o “Hunsrückisch”, que no Brasil evoluiu para o chamado “alemão riograndense” ou “hunsriqueano”: ainda falado por muitos moradores, especialmente nas zonas rurais.

Além da língua, os descendentes conservaram elementos como a arquitetura enxaimel, a música coral, a culinária típica, os hábitos religiosos e os valores morais, como o espírito comunitário, a fé protestante e o trabalho árduo.

Teutônia, com o tempo, cresceu economicamente e se destacou como referência regional em agroindústria, cooperativismo e empreendedorismo. Apesar do progresso, manteve suas raízes culturais bem preservadas. Hoje, ao mesmo tempo que se insere plenamente no contexto nacional, carrega também a memória viva de uma região europeia que, há mais de um século e meio, viu partir muitos de seus filhos em busca de uma nova vida. Imigrantes que, no sul brasileiro, encontraram dignidade e uma nova pátria: onde seus costumes e tradições permanecem ativos.

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