A pandemia de Covid-19 provocou impactos significativos não apenas na saúde física da população, mas também na saúde mental. Um estudo conduzido pela farmacêutica formada pela Univates, Bruna Cintia Ijorski Kruger, identificou um expressivo aumento no uso de antidepressivos e ansiolíticos em Teutônia.
A pesquisa, que analisou dados de uma farmácia local entre os anos de 2019 e 2022, identificou que fatores como o isolamento social, a instabilidade econômica e o medo da doença impulsionaram uma crise de saúde mental, com destaque para o aumento no consumo desses medicamentos entre mulheres e jovens adultos.
Metodologia
O estudo incluiu um questionário aplicado a 98 usuários de antidepressivos ou ansiolíticos, além da análise documental dos registros da farmácia. Os dados mostraram que 65,3% dos entrevistados tinham entre 21 e 50 anos, sendo 55,1% do total mulheres. A maioria (78,6%) já utilizava os medicamentos há dois ou três anos, e 92% relataram aumento da necessidade de consumo durante a pandemia.
Entre 2019 e 2020, o uso de antidepressivos cresceu 82,2%, com escitalopram (15,3%) e sertralina (12,2%) entre os mais utilizados. Já os ansiolíticos tiveram um salto ainda maior, de 210,1%, com destaque para clonazepam e alprazolam. O pico de consumo foi registrado em 2021: 41.430 unidades de antidepressivos e 12.810 de ansiolíticos dispensados. Embora tenha havido uma leve queda em 2022, os números permaneceram acima do período pré-pandemia.
Os entrevistados apontaram o isolamento social como o principal motivo para o aumento no uso dos medicamentos (74%), seguido por dificuldades financeiras (34,8%) e experiências de luto (12,3%). Além disso, 67,9% afirmaram ter precisado aumentar a dose dos remédios durante o período mais crítico da pandemia.
Análise
O cenário observado em Teutônia reflete uma tendência nacional. Dados do Conselho Federal de Farmácia (CFF) indicam que, em 2020, a venda de medicamentos controlados no Brasil cresceu 17%, com os ansiolíticos liderando a alta (59%). Estudos internacionais também identificaram padrões semelhantes, associando o isolamento à piora da saúde mental em diversos países.
Apesar da relevância dos dados, a pesquisa apresenta limitações, como a restrição da análise a uma única farmácia e a possível subnotificação, considerando o estigma social ainda presente em torno dos transtornos mentais. Muitos participantes também relataram dificuldade de acesso a terapias não medicamentosas.
A conclusão do estudo reforça a necessidade de políticas públicas voltadas à saúde mental, com maior oferta de atendimento psicológico na rede básica e campanhas de conscientização. O papel do farmacêutico também é destacado como essencial para promover o uso racional de medicamentos e orientar pacientes sobre alternativas terapêuticas.